Planalto aposta que Bebianno não será um homem-bomba
Acredite se quiser: a versão que corre no Palácio do Planalto é de que não há crise. E que, se havia, ela tende a acabar após a demissão do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, anunciada hoje.
A verdade é que, se não houvesse crise, não haveria a demissão do ministro 49 dias após a posse. Um marco só superado na história recente por Romero Jucá, demitido do comando do Ministério do Planejamento no governo Michel Temer após uma semana e meia no cargo.
Bebianno saiu por causa da crise; Seu relacionamento com o Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, que sempre foi crítico, transformou-se numa crise de governo com respingos no chefe, Jair Bolsonaro. E quais foram os ingredientes dessa crise?
1) A lambança promovida pelo PSL na campanha eleitoral –então presidido por Bebianno– com distribuição de verbas dos fundos de campanha para candidatas laranja.
2) o ex-ministro agendou uma reunião com o vice-presidente institucional da Globo em Brasília, Paulo Tonet, abortada por Bolsonaro, que a classificou como "uma traição".
3) Tornou-se suspeito de agir como fonte de veículos contrários ao governo dentro do Palácio do Planalto.
4) Deixou no ar declarações sugerindo que poderia revelar segredos da campanha eleitoral contra o presidente, especialmente quando disse "Bolsonaro tem medo de respingar nele".
5) Conseguiu a solidariedade de metade da bancada contra seu afastamento, o que irritou mais ainda a Bolsonaro.
6) Provocou uma repreensão pública do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à atuação do presidente no episódio.
Mas o afastamento definitivo só ocorreu depois que o Planalto concluiu que o presidente está blindado. Mesmo com toda mágoa, com todo rancor, depois de várias conversas com Bebiano, os ministros palacianos e o próprio Bolsonaro concluíram que Bebianno não irá se transformar num homem-bomba.
Os bolsonaristas estão convencidos de que Bebianno não falará qualquer coisa comprometedora em relação ao escândalos das candidaturas laranjas na campanha eleitoral.
O argumento é que Bebianno foi o coordenador e caixa e, portanto, também pode ser responsabilizado por qualquer delito que aponte.
Quando confrontados com o caso do ex-ministro Antonio Palocci, os bolsonaristas argumentam que o petista só partiu para a delação premiada contra seus chefes depois de dois anos de prisão determinada determinada pelo então juiz Sérgio Moro.
Hoje Sérgio Moro é ministro da Justiça de Bolsonaro.
Agora a ordem entre os articuladores políticos do governo é catar os cacos, engolir em seco e fingir que a crise está superada.
O problema é que, em política, os fatos nem sempre seguem a simples vontade dos governantes. Tem vezes que criam pernas próprias.
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