Para Bolsonaristas, 2º dia de ajuda humanitária é decisivo
Durante sua visita aos EUA na primeira semana de fevereiro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, encontrou-se, no dia 5, com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.
Discutiram a visita que o presidente Jair Bolsonaro fará aquele país em março. Mas também acertaram seus ponteiros sobre a estratégia em relação à Venezuela de Nicolás Maduro. E esse acerto envolveu o que está acontecendo agora na fronteira com nosso vizinho. Torna decisivo manter os protestos.
Como se sabe, Araújo representa no governo brasileiro o grupo de Eduardo Bolsonaro, o filho mais novo do presidente da República, e seu guru radicado dos EUA, Olavo de Carvalho.
O chanceler brasileiro explicou a Pompeo sua concordância incondicional com a política externa de Donald Trump. Mas também falou de resistências internas à intervenção na Venezuela, especialmente entre os militares.
Militares têm, em geral, uma posição ambígua sobre guerras.
Primeiro, foram treinados e existem para essa possibilidade, sempre presente. As Forças Armadas ganham mais verbas e seus comandantes, mais poder quando elas se efetivam.
Mas há um outro fator: na guerra, a primeira bucha dos canhões são os soldados. Seus homens.
Com as mortes, a situação se torna crítica. Em caso de vitória rápida e acachapante, os militares viram heróis. Em casos de guerras prolongadas, os comandantes principalmente, vão-se tornando vilões. Como na guerra do Vietnã, por exemplo.
Então é sempre um risco que ainda tem um outro ingrediente, no caso dos militares brasileiros.
Nossas Forças Armadas sofreram grande desprestígio com o golpe prolongado de 1964. Recuperaram a boa imagem com a crise do poder civil provocada pelas denúncias da Lava Jato. Redimiram-se quase completamente com a eleição de um militar para o Planalto. Não é interessante colocar isso tudo em risco agora.
Daí porque nossos generais não queiram um conflito armado com a Venezuela neste momento.
Nas reuniões com diplomatas e até com o presidente da República, como na última sexta-feira (22), colocaram claramente que só desejariam intervir no país vizinho com o aval de entidades internacionais representativas, como a Organização das Nações Unidas (ONU).
Mas, premidos pela pressão do presidente, os militares aceitaram aderir parcialmente à tese da tal "ajuda humanitária" dos EUA: oferecendo mantimentos e remédios, mas sem entrar no país.
Na visão dos bolsonaristas, ficou aceitável: a "ajuda humanitária" na fronteira funciona como uma isca. Pode deflagrar protestos e conflitos internos mais fortes na Venezuela, levando a uma situação que obrigue a ONU e demais entidades a aceitarem a intervenção.
À 0h28m deste domingo (24) o Itamaraty soltou a seguinte nota:
O Governo do Brasil expressa sua condenação mais veemente aos atos de violência perpetrados pelo regime ilegítimo do ditador Nicolás Maduro, no dia 23 de fevereiro, nas fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia, que causaram várias vítimas fatais e dezenas de feridos. O uso da força contra o povo venezuelano, que anseia por receber a ajuda humanitária internacional, caracteriza, de forma definitiva, o caráter criminoso do regime Maduro. Trata-se de um brutal atentado aos direitos humanos, que nenhum princípio do direito internacional remotamente justifica e diante do qual nenhuma nação pode calar-se.
O Brasil apela à comunidade internacional, sobretudo aos países que ainda não reconheceram o Presidente encarregado Juan Guaidó, a somarem-se ao esforço de libertação da Venezuela, reconhecendo o governo legítimo de Guaidó e exigindo que cesse a violência das forças do regime contra sua própria população.
Tudo a ver com o acertado com Mike Pompeo.
Veja abaixo chamamentos de incentivo de Bolsonaro pai e filho hoje no Twitter:
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