FHC critica capitalização na Previdência e a desorganização do governo

O blog enviou três perguntas sobre o projeto de reforma da Previdência para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele criticou o regime de capitalização. Disse que já foi estudado em seu governo e considerado inexequível: "calculamos que daria quase um PIB" (Produto Interno Bruto) para fazer a transformação completa.

Fernando Henrique elogia o foco em privilégios e desigualdades, mas diz que ainda não tem uma avaliação sobre quem vai pagar mais pela reforma: "Os ricos ou os já privilegiados?", pergunta.  E diz que "o governo está desorganizado" no Congresso para aprovar a reforma.

Veja as respostas na íntegra:

O que o sr. achou do projeto de Previdência divulgado pelo governo?

Fernando Henrique Cardoso:  A questão de reforma previdenciária é antiga, afeta a muitos países e há que enfrentá-la. Aos poucos diferentes governos vêm avançando. No meu tempo caminhamos algo. Derrotado na idade mínima, inventamos o fator previdenciário, que nos permitiu capengar. Lula também, deu passos. Agora se tornou imperativo correr.

Não analisei as minúcias da reforma, mas ela fica no ângulo básico para sua aprovação: os privilégios e desigualdades. É preciso ver, contudo o custo dessa racionalização: quem vai pagar mais, os ricos ou os já privilegiados?

O senhor acredita que será aprovada?

FHC:  É aí que "a porca torce o rabo" e as corporações, falando em nome do povo, buscarão manter seus privilégios. A luta político-social será no Congresso, onde o governo está desorganizado.

Enfim, há muita água a correr e pouco guarda-chuva para abrigar tantos interesses. O jogo está começando e os "mercados" ansiosos por resolver logo. Veremos…

Há algum ponto que o senhor considere inadequado?

FHC:  A ambição não expressa de um governo que na área econômica é neoliberal é passar tudo para um regime de capitalização da Previdência. Só que o custo disso é enorme: o que fazer com a massa dos que nunca se capitalizaram? No meu tempo calculamos e daria quase um PIB para a transformação completa.