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Tales Faria

A internet viraliza um Carnaval que Bolsonaro não viu

Tales Faria

06/03/2019 15h18

"Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro."

Fui procurar o polêmico post do presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Dei Ctrl-C/Ctrl-V no trecho da mensagem postada ontem e joguei na busca. Clique aqui para ver o que achei.

Pois é. Pelo que vi até 15h15, a rapaziada aproveitou o chamamento do presidente para mostrar uma face romântica, solidária e bem-humorada dos blocos de rua que Bolsonaro ignorou no tal post.

Sim. Tem também pornografia, xixi na rua, golden shower, agressões. Mas essas distorções não são a marca do Carnaval.

Assim como aparecem no Carnaval muitas igrejas evangélicas e conjuntos de música gospel gritando, dia e noite nos ouvidos dos outros, para tentar espantar os seus próprios demônios.

Mas nada disso é a marca do festejo de Momo.

A marca do Carnaval está em alguns dos posts que achei naquela busca do Google. Como estes aqui:

Talvez a melhor definição do Carnaval tenha sido a do Manuel Bandeira no poema "Não sei dançar". O presidente bem que podia se inspirar no poeta e deixar a pornografia de lado:

NÃO SEI DANÇAR

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria…
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdia a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás…
Esta foi açafata…
– Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal.
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil…

Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros…

Mas ela não sabe…
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política…
Nem dos oito mil quilômetros de costa…
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?… Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.