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Tales Faria

Onyx Lorenzoni tem seu poder esvaziado pelo presidente e pelo Congresso

Tales Faria

14/03/2019 09h31

O presidente Jair Bolsonaro mandou para a Antártica o ministro encarregado de cuidar das negociações políticas do governo, Onyx Lorenzoni, e aproveitou para ele próprio iniciar uma reorganização do setor.

No período, Bolsonaro se reuniu com o principal e mais poderoso desafeto de Onyx, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem entregou as articulações para a aprovação do projeto de reforma da Previdência. Maia saiu do encontro feliz. Disse a deputados que obteve a promessa de um novo esquema no trato com o Congresso.

Aliada do presidente da Câmara, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), está formalmente encarregada da interlocução sobre o texto da Previdência com o Planalto.

Durante a viagem de Onyx, a deputada Joice passou a despachar no Palácio, no gabinete do próprio ministro.

Para não ter que tratar com Onyx, Maia também montou linha direta com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ontem, ao sair de uma reunião com Guedes, ironizou o fato de o chefe da Casa Civil estar em viagem na Antártica:

"O ministro Paulo Guedes está indo muito bem, na Economia e na articulação política. Surpreendentemente bem na articulação política. O Onyx viajou três dias, e ele [Guedes] ocupou bem esse espaço. Não sei se é definitivo ou se é apenas por um prazo de três dias."

O enfraquecimento do ministro como articulador se deve aos inimigos que ele cultivou ao longo da carreira como deputado e que resolveu manter quando assumiu o governo.

É o caso de Maia e de outros nomes dentro do DEM, partido que chegou a discutir o afastamento do agora ministro na legislatura passada.

Até hoje o presidente da legenda, ACM Neto, é mantido à distância do Planalto. Outros presidentes de partido nem sequer são recebidos. O senador Ciro Nogueira (PI), comandante nacional do PP, nunca foi procurado e também tem dito que não quer saber do ministro. Nem do governo.

A falta de tato cruzou a Praça dos Três Poderes até a rua atrás do Supremo Tribunal Federal, onde funciona o Tribunal de Contas da União.

O presidente do TCU, José Múcio Monteiro, já até mandou desmarcar uma solenidade no seu prédio só por causa da presença de Onyx sem que ele tivesse sido informado. O TCU é um órgão auxiliar do Congresso. Mas é também o encarregado de fiscalizar todas as contas do Executivo. Não é uma boa briga.

Onyx resolveu que sua interlocução com a Corte será através do ministro Augusto Nardes, e não com o presidente da Casa. Acabou angariando nova antipatia.

A falta de tato levou o ministro a mandar para os líderes dos partidos governistas uma lista de cargos a serem preenchidos no segundo e terceiro escalões do governo com uma observação nada simpática: os principais postos já têm donos, Serão indicados pelo Planalto ou pelo ministro da pasta, "se quiser o resto, é pegar ou largar".

Até agora, as bancadas que mais interessam ao governo, como PSD, MDB, PP, DEM e PRB têm resistido. A ordem dos presidentes dessas legendas é esperar para uma negociação formal com o partido a fim de se obter uma fatia maior do poder.

A própria Joice se disse surpreendida ao assumir por ter sido informada de que seus vice-líderes já estavam indicados sem que ela desse opinião. Alguns dos convidados, no entanto, não puderam aceitar. É o caso do PSD. O partido determinou que nenhum deputado ou senador aceitasse até que fosse fechado um acordo do governo com a legenda.

Os políticos reclamam também da divisão interna do poder no Palácio. Onyx e sua equipe cuidam da distribuição dos cargos, mas tudo o que tem a ver com verbas passa por outro ministro, o chefe da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

A reclamação sobre a falta de poder atinge até a equipe de ex-deputados montada por Onyx para atuar como tropa de choque da articulação política do governo no Congresso. Até hoje, um dos integrantes, o ex-deputado Abelardo Lupion, não foi nomeado formalmente.

Convidado para também integrar o grupo, o ex-deputado Danilo Forte (PSDB-CE) apareceu duas ou três vezes no Palácio e depois não foi mais. Motivo? Disse a um colega do Ceará que desistiu "porque o esquema simplesmente não funciona".

Para cuidar da articulação com o Senado, Onyx colocou Leonardo Quintão (MDB-MG). Ex-deputado, até hoje ele não é reconhecido pelos senadores, que se consideram um estágio mais elevado na carreira política. Não sem razão.

O presidente Jair Bolsonaro aproveitou a viagem de Onyx para mexer um pouco no grupo.

Reuniu em seu gabinete ontem o secretário da Receita, Marcos Cintra, com o ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) que foi relator da reforma tributária na Câmara. Colocou Hauly para auxiliar Cintra na tramitação do texto sobre tributos no Congresso.

E assim, aos poucos, Onyx vai tendo  seu poder esvaziado. Se conseguirá reverter o processo, isso é coisa que só o tempo dirá. Afinal, ele foi um dos aliados de primeira hora de Bolsonaro, Mas o presidente também anda sendo enfraquecido. Bem, isso é outra história…

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.