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Tales Faria

Equipe de Bolsonaro vê retorno do grupo de Eduardo Cunha

Tales Faria

20/03/2019 10h11

O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, integra a turma de aliados de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro. Seu grupo de auxiliares mais próximos atribui o enfraquecimento do ministro à reorganização de uma facção da Câmara ligada ao ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ).

Os aliados de Cunha haviam se desarticulado com a prisão do chefe. Conseguiram manter-se próximos ao poder em torno do ex-presidente Michel Temer. Mas perderam novamente o controle do Congresso com a crise do governo Temer, por conta das denúncias da JBS, e com a proximidade das eleições de 2018.

Onyx e seus auxiliares, ligados à liderança do governo na Câmara, estão alertando o presidente Jair Bolsonaro de que o grupo de Eduardo Cunha assumiu a liderança dos principais partidos do chamado Centrão.

Pior. Com isso, seus integrantes conseguiram se aproximar e girar em torno da figura mais poderosa no Congresso hoje: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Não há como abrir mão de Maia e do novo Centrão (eles não aceitam serem denominados assim) na votação da reforma da Previdência. Mas o Planalto acredita que o grupo vai esticar a corda ao máximo para arrancar espaço no governo.

Nesta terça-feira (19) os líderes dos partidos do novo Centrão reuniram-se novamente  com Maia por pelo menos duas vezes

Trata-se, basicamente, do núcleo de partidos que deu apoio à reeleição de Rodrigo para o comando da Casa: DEM, PP, SD, PR, PRB e PSDB, acrescido do MDB. Nesta semana o líder do PP, Arthur Lira (AL), participou das discussões por telefone, pois ficou em seu estado.

O novo líder do PR, Wellington Roberto (PB), nomeado ontem, se integrará ao grupo a partir de hoje. O antigo líder, José Rocha, aceitou tornar-se vice-líder do governo e perdeu o cargo na bancada por pressão do chefe político do PR, Waldemar Costa Neto, com quem o Planalto não conversa.

O grupo não se considera orgânico e por isso não aceita a denominação de Centrão. Mas seus integrantes passaram a agir de maneira mais coordenada desde que Bolsonaro assumiu o governo e decidiu não priorizar a negociação com os comando partidários.

Informado da rearticulação dos aliados de Eduardo Cunha, Bolsonaro está repetindo que não se dobrará "à velha política", e que cederá "apenas pontualmente" naquilo que achar razoável.

Foi o caso agora do decreto sobre regras de ocupação de cargos no governo.

O presidente aceitou retroagir sua vigência, depois que Rodrigo Maia e o Centrão reclamaram que as regras tinham que valer para os já nomeados por Onyx & Cia.

O mesmo procedimento será adotado pelo Planalto na reforma da Previdência: ceder, porque é inevitável, mas resistir ao máximo.

A esperança do governo é que, depois da reforma, não precise mais do novo Centrão. O problema é que o grupo sabe disso.

 

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.