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Tales Faria

A encruzilhada de Bolsonaro: "Fui eleito sendo o que sou. Não posso mudar"

Tales Faria

26/03/2019 07h27

Ontem na reunião com ministros no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro disse que não quer guerra com o Congresso, muito menos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas que não pode abandonar os seus eleitores.

O que Bolsonaro chamou de "meus eleitores" não são todos os 57.797.847 que votaram nele. Mas aqueles que aderiram mais cedo a seu discurso, capitaneados principalmente por seus filhos.

E estes, digamos, bolsonaristas de raiz não querem pacificação com quem quer que seja que não adira às ideias do grupo. Nem mesmo aqueles que participem do governo.

O guru-mor dos filhos de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, por exemplo, postou hoje no Twitter contra os generais: "Quem neste país ainda não notou que os generais vêem o Bolsonaro como um capitão que lhes deve reverência, em vez de um presidente a quem devem obediência?"


Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que se trata de uma resposta ao general Santos Cruz, secretário de Governo do presidente, que em entrevista publicada ontem pela Folha chamou Olavo de Carvalho de desequilibrado.

Bolsonaro não gostaria de ver a confusão aumentar. Mas, na sua avaliação, são os bolsonaristas de raiz que se disporão a ir para as ruas defendê-lo contra os adversários. Sejam eles os partidos de esquerda ou de direita, ou mesmo os generais que tentarem tutelá-lo.

O presidente avalia que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment porque abandonou seu eleitorado. Assumiu no segundo governo uma política econômica contrária à da sua campanha eleitoral.

"Fui eleito sendo o que sou. Isso eu não posso mudar", tem repetido a seus auxiliares.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.