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Tales Faria

Centrão cobra aumento da cota por deputado para não paralisar o governo

Tales Faria

05/06/2019 20h24

 

Do deputado Nelson Pellegrino (PT-BA) que estava coordenando a estratégia da oposição na Comissão Mista de Orçamento (CMO), nesta manhã, durante a votação do pedido de suplementação orçamentária do governo:

"Segui a orientação do líder do PL, Wellington Roberto (PB)."

O deputado do PL exigiu a leitura do parecer do relator na íntegra e depois chegou a requer votação nominal. Só voltou atrás quando conseguiu adiar a votação para a próxima semana.

O pedido governo para emitir títulos de R$ 248,9 bilhões tem que ser votado até o dia 15.

A oposição estava no seu papel: pretendia obstruir a votação, como tem feito quase sempre. Nem precisou, graças à ajuda de Wellington Roberto.

Mas o que move o líder do PL?

Wellington Roberto é um dos principais articuladores do bloco informal de partidos de centro que reúne cerca de 200 deputados do PP, DEM, PL, MDB, PRB, PSD e SD.

O grupo tem ditado os rumos das votações no Congresso.

Desde que Jair Bolsonaro anunciou que não negocia mais com os comandos partidários, os deputados do Centrão passaram a priorizar a obtenção de verbas orçamentárias para suas bases eleitorais.

Segundo a "Folha de S.Paulo" revelou, o governo já admite liberar cerca de 10 milhões em obras e serviços para bases eleitorais de cada parlamentar que votar pela reformar da Previdência.

O jornal "O Globo" publicou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem proposto que os parlamentares apliquem esses R$ 10 milhões a mais nas Universidades públicas de seus estados.

O que se diz no Congresso é que os deputados querem mais. A exigência seria dobrar a cota de cada um deles.

O Centrão não admite publicamente sequer a sua existência como grupo, bloco ou seja lá o que for. Muito menos que trabalhe para obstruir votações de interesse do governo.

Mas é exatamente o que fez nessa manhã na Comissão Mista de Orçamento.

Sem o Centrão a votação não seria adiada.

Enquanto a suplementação não for aprovada, começam a ser paralisadas obras, serviços e despesas correntes do governo. É a única forma de evitar o descumprimento da chamada "regra de ouro" do Orçamento.

A regra impede o Executivo de usar recursos destinados a investimentos para pagar despesas correntes, exceto se Congresso autorizar créditos suplementares.

O relator apresentou parecer pela autorização da emissão de títulos no valor de R$ 248,9 bilhões. Já estava marcada para hoje à tarde sessão no plenário para discutir vetos presidenciais, e que poderia ser usada para aprovar definitivamente o pedido.

Como a suplementação não foi votada na CMO, ela não teve como ir a plenário. Agora só poderá ser votada no dia 11, quatro dias antes do prazo final. Se não houver nova obstrução.

Ou seja a corda estará cada vez mais esticada para ver se o governo cede.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.