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Tales Faria

Nossa telefonia é aberta a fraudes, diz especialista em crimes cibernéticos

Tales Faria

13/06/2019 08h45


O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) é delegado e especialista em crimes cibernéticos.

Em entrevista ao blog ele explica que a grande maioria de casos de roubo de dados de celulares, como o que provavelmente ocorreu com a força-tarefa da Lava Jato, decorrem do descuido do próprio usuário com o aparelho, ou pela chamada "engenharia social", em que a vítima acaba fornecendo os dados.

Mas Alessandro Vieira também aponta uma outra possibilidade que decorre do atraso do sistema de telefonia brasileira:

"Há ataques usando uma fragilidade do sistema de telefonia chamada de "SS7". É muito conhecida no mundo digital há alguns anos e permite fazer a clonagem da linha telefônica", explica.

Segundo ele, essa fragilidade decorre de um protocolo que funcionava bem quando as redes se destinavam somente a ligações telefônicas. Mas, agora, para tráfego de dados, o SS7 deixa o sistema aberto a fraudes.

O Sistema de Sinalização nº7 (SS7) age como intermediário entre redes de celulares.

Quando as chamadas ou as mensagens de texto são feitas através desse sistema, detalhes como a transferência de SMS ou a tradução de códigos que ligam uma rede a outra ficam acessíveis.

Em junho de 2013, quando Glenn Greenwald e Edward Snowden, revelaram programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional (NSA), descobriu-se que a rede SS7 estava sendo usada como ferramenta pelos hackers para interceptações de dados.

Alessandro Vieira conta que cerca de 800 empresas de telefonia no mundo, ainda usam esse sistema. "É uma fragilidade que demanda uma renovação tecnológica que o Brasil tem que descontinuar", afirma o senador-delegado.

Mas Alessandro Vieira insiste: "A grande maioria dos casos decorre de falhas do próprio usuário". E aponta algumas delas:

  • não ter baixado as atualizações recomendadas pelo sistema operacional do celular;
  • utilização de senhas fracas;
  • ter baixado aplicativos que não são provenientes de lojas oficiais.

Alessandro não dá importância às teorias que citam a origem russa do aplicativo Telegram, usado por Deltan Dallagnol e Sérgio Moro nas conversas, como fonte de espionagem.

Mas lembra que o Telegram usa código aberto e isso, segundo ele, torna mais fácil para os hackers testarem funcionalidades e encontrar falhas de comunicações.

O senador ressalta que o Telegram, no entanto, permite trocas de mensagens criptografadas ponto a ponto, assim como programar o tempo para que elas sejam apagadas.

É uma funcionalidade que o usuário tem que ativar, o que provavelmente não foi feito pelo pessoal da Lava Jato.

Do ponto de vista político, do conteúdo das mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol, Alssandro Vieira diz que "é problemático ter diálogos muito aproximados entre magistrado e uma das partes", mas que ainda não viu "nenhum diálogo que comprometa".

Ele lembra que em Brasília "são notórios eventos e jantares financiados por grandes bancas de advogados e empresas investigadas onde os ministros vão alegremente e nunca se teve nenhuma notícia de questionamento". Daí porque, afirma, apresentou um requerimento de criação da chamada CPI da Lava Toga, que foi arquivada pelo Senado. "Isso tem que acabar", afirma.

A propósito do vazamento das conversas de Moro com Dallagnol, Alessandro Vieira argumenta:

"Não vale a narrativa dos heróis da Lava Jato. O Brasil não precisa de heróis, precisa de bons exemplos. Mas não vale também a narrativa dos perseguidos políticos. Pois tivemos montanhas de dinheiro, extratos bancários, confissões, bilhões de reais devolvidos que não deixam dúvidas".

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.