Topo

Tales Faria

Nos bastidores, saída de Santos Cruz aumenta cerco de militares a Bolsonaro

Tales Faria

14/06/2019 13h03

O general Santos Cruz perdeu o comando da Secretaria de Governo da Presidência por um simples motivo: o presidente Jair Bolsonaro considerou insustentável o relacionamento com o auxiliar direto.

Além de não se dar mais com os filhos do presidente, Santos Cruz passou a bater de frente com o novo secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten. O clima entre os dois ficou, de fato, insuportável.

Santos Cruz era um amigo antigo de Bolsonaro. Mas o relacionamento trincou desde que o general começou a não se entender com o filho pitbull do presidente, Carlos Bolsonaro, e trocou desaforos com o guru do Bolsonarismo, Olavo de Carvalho.

Numa última tentativa de esfriar a guerra, Bolsonaro convenceu os filhos a suspenderem os ataques ao general. Carlos parou. O próprio Olavo passou a controlar suas críticas.

Mas aí surgiu outro problema: o recém-nomeado Fábio Wajngarten. A escolha do secretário de Comunicação da Presidência não passou pelo crivo do general que o chefiaria e os dois logo começaram a disputar o poder real sobre a área de Comunicação.

Fabio chegou a denunciar o chefe direto, a quem estava subordinado, para o presidente da República. Entregou a Bolsonaro uma troca de mensagens no Whatsapp que atribuiu ao general. Nela, supostamente Santos Cruz chamava o presidente de idiota.

Bolsonaro colocou o general e Wajngarten frente a frente numa reunião para esclarecer o assunto no Palácio, com a presença do general Augusto Heleno e do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Desde então, quase que diariamente Santos Cruz passou a reclamar do secretário com o presidente. Até Bolsonaro concluir que não teria mais como permanecer com o general como seu auxiliar.

Mas aí surgiu outro problema: como tirar do cargo um general da ativa, respeitado, sem provocar uma crise militar?

Bolsonaro consultou outros dois generais do Palácio, Augusto Heleno e o ex-comandante do Exército Villas Bôas Correia, que por sua vez consultaram o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol.

A solução apresentada ao presidente foi a de colocar outro general no lugar, para minimizar as versões de que um subordinado, Wajngarten, derrubou o chefe, Santos Cruz. Daí surgiu o nome do novo secretário de Governo, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante militar do Sudeste e também amigo de Bolsonaro.

Ou seja, foi uma verdadeira operação militar em que, embora o presidente aparentemente tenha demonstrado força, na prática ele estará mais ainda nas mãos dos militares.

Não dá para Wajngarten, Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho arrumarem encrenca com este também. Saiu um general enfraquecido e entrou um general forte.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.