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Tales Faria

Desejo de Bolsonaro de armar toda a população põe em risco decreto de armas

Tales Faria

18/06/2019 11h52

A revelação do presidente Jair Bolsonaro de que quer ver a população armada com finalidade política ajuda a colocar ainda mais em risco o seu decreto de liberação da posse de armas.

O Senado vota hoje um projeto de lei para derrubar o texto presidencial.

No sábado, em sua primeira visita ao Rio Grande do Sul, o presidente declarou, durante um evento do Exército (vídeo acima), que defende o armamento individual do povo "para que tentações não passem pela cabeça de nossos governantes".

"Ao que tudo indica, Bolsonaro quer organizar sua 'guarda bolivariana' de direita. De tanto fugir da Venezuela estamos a caminho dela com sinal trocado", disse ao blog o senador Randolfe Rodrigues (Rede AP).

Ontem, no plenário da Câmara, seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) acrescentou à declaração do pai:

"Para que amanhã, se voltar um regime como o do governo Lula, a gente não fique sob os demandos de um regime autoritário, como ocorreu na Venezuela."

O líder do PT no Senado, ficou indignado. Ao blog, defendeu impeachment do presidente:

"É uma afronta à Constituição e uma clara ameaça à democracia. Deixa claro o objetivo do decreto. Claramente configura crime de responsabilidade."

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que é delegado de carreira e adversário do PT afirma:

"Armar a população sob pretexto de defender a democracia lembra demais Hugo Chávez na Venezuela. Já sabemos onde isto vai dar."

Segundo ele, "o decreto é inconstitucional, é preciso derrubar".

Alessandro Vieira é autor de um requerimento de audiência pública para ouvir todos os interessados no tema: "Sou favorável à flexibilização da posse e do porte de armas de fogo, mas dentro de uma lógica técnica e equilibrada."

Também o senador Cid Gomes, cujo irmão Ciro disputou as eleições presidenciais contra o PT, prefere nem entrar no mérito do projeto:

"Alguém já deve ter avisado ao presidente que ele errou ao fazer alterações por decreto. Ele então se embanana na discussão do mérito. Eu estou disciplinado a discutir a forma   –decreto ou lei– e estou convencido de que o decreto deve ser revogado."

O líder do PSL, senador Major Olimpio (SP), argumenta em favor do presidente.

"Todas as grandes ditaduras foram desarmamentistas: China , Mussolini na Itália , Hitler, Fidel Castro… Para subjugar a população e escravizá-la sob um regime, o primeiro passo é desarmá-la. Este é o sentido da fala do presidente repetido por Eduardo. Nada além disto", disse ao blog.

E Carlos Bolsonaro:

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.