O governo de Jair Bolsonaro teve seu primeiro dia de cão
Foi mais ou menos como no filme de 1975, dirigido por Sidney Lumet e baseado em uma história real.
O personagem estrelado por Al Pacino planejou um assalto que deveria durar dez minutos. Mas tudo sai de controle e, passadas quatro horas, o banco parecia um espetáculo de circo. Oito horas depois, era notícia em rede nacional de TV. Mais 12 horas e toda a história atinge o seu clímax com ampla humilhação dos protagonistas.
Esta terça-feira, 19, começou a ser gestada na quarta-feira, 13, quando o vereador Carlos Bolsonaro postou um tuíte acusando Gustavo Bebianno de mentiroso.
O pai, Jair Bolsonaro, referendou a acusação contra seu ex-caixa de campanha; o disse-me-disse virou bate boca; fugiu de controle e assumiu seu clímax ontem. Gravações divulgadas pela revista "Veja" revelaram diálogos toscos entre um presidente da República e o secretário-geral da Presidência, recheados por mentiras, intrigas e traições que humilharam a todos os envolvidos.
Mas essa foi apenas uma das histórias que tornaram a terça-feira para o governo digna do filme "Um dia de cão".
Pela manhã, no Senado Federal, sob os protestos do líder do PSL, Major Olímpio (SP), a Comissão de Fiscalização e Controle decidiu chamar Gustavo Bebianno a depor.
O ministro demitido terá que explicar aos senadores não só os motivos de tanto ódio do presidente e seu filho. Será instado a discorrer sobre o funcionamento do laranjal no PSL revelado pela "Folha de S.Paulo". O partido foi presidido durante a campanha de Jair Bolsonaro ao Planalto pelo ex-ministro, que cuidou também do caixa.
No final da tarde na Câmara, ocorreu o clímax do dia de cão.
Os deputados votaram por evidente e esmagadora maioria –sem nem precisar de contagem dos votos– a derrubada do decreto presidencial que expande os poderes de funcionários do governo para tornar secretos os atos do poder público.
Nem o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do partido de Bolsonaro, teve coragem de votar contra a derrubada do decreto. Apesar dos apelos do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).
"Foi realmente um dia muito ruim para o governo", comentou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) ao blog. Normalmente ela vai ao microfone do plenário várias vezes para defender o governo. Nesta terça-feira não foi uma única vez. "Como posso defender tanta trapalhada?", disse a uma colega de partido.
A derrubada foi planejada por todos os líderes partidários em uma reunião na manhã desta terça-feira comandada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DE-RJ). Serviu como recado a Bolsonaro.
Primeiro, de que Maia é o homem forte do Congresso.
Depois, que os parlamentares não gostaram da forma como foi fritado o ministro do Palácio que tinha o melhor relacionamento com o comando da Câmara.
Também, para mostrar que a negociação direta com bancadas temáticas e não com os partidos políticos, proposta por Bolsonaro, não é aceita pelos comandantes das legendas.
E por fim, que podem ser derrubados quaisquer projetos de interesse do governo. Incluindo aí algumas das reformas econômicas e até a proposta do ministro Sérgio Moro (Justiça) de tornar irreversível a prisão após a condenações em 2ª instância.
Há uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do governo.
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