ACM Neto: “Sem articulação política não haverá reforma da Previdência"
Diferentemente do presidente da República, Jair Bolsonaro, o prefeito de Salvador (BA), ACM Neto, não detectou qualquer cena pornográfica nos festejos de Momo neste ano.
Comemorou o que chama de "o maior Carnaval de todos os tempos" na sua cidade em 2019. Ao blog, ele disse que a festa garante um incremento de quase R$ 2 bilhões para a indústria de entretenimento da capital da Bahia ao longo do ano.
ACM Neto é o presidente nacional do DEM, partido que elegeu os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP).
Na entrevista ao blog ele diz não ter dúvidas de que, "como tema em si", a reforma da Previdência é a mais importante e a mais urgente de todas. Mas acha que o governo ainda está desarticulado, do ponto de vista político. "Falta ser muito claro de como ele quer se relacionar com o Congresso", afirma.
Para ACM Neto, Bolsonaro só montará maioria se definir como a "relação do Executivo com o Legislativo vai transcorrer pelos próximos quatro anos". Leia abaixo a transcrição da entrevista:
Como foi o Carnaval na Bahia?
Eu diria que foi o maior Carnaval de todos os tempos para Salvador. Seja pelo número de pessoas em geral, seja pela quantidade de turistas que a cidade recebeu. Do ponto de vista econômico o Carnaval é um evento extraordinário. Movimenta quase R$ 2 bilhões para a indústria do entretenimento de Salvador ao longo de todo o ano.
Teve muita pornografia?
Não. Não vi absolutamente nada neste Carnaval que pudesse chamar a atenção de uma maneira acintosa. Não verificamos nada disso, nada pornográfico.
O sr. é conservador?
Não me considero conservador. Muito pelo contrário. Acho que sou um cara de cabeça aberta mesmo. Respeito as liberdades individuais e as opções de cada pessoa nos mais diferentes ramos da vida.
E o seu partido, o DEM, é conservador?
Eu não diria que o Democratas é um partido conservador. É um partido de centro, moderado, que tem várias correntes de pensamento. Não é um partido com uma só linha. E acho que isso é muito saudável para o nosso exercício interno. Você vai encontrar pessoas mais conservadoras, pessoas mais abertas, portanto liberais. Então é um partido que sabe conviver bem com as diferenças.
Como está o Centrão? Ainda existe?
Não posso falar de Centrão. Não considero que o Democratas integre o Centrão. Nós não vamos liderar nenhum movimento nessa direção, não há o que se falar de Centrão.
O DEM pertence à base de apoio ao governo no Congresso?
Nós ainda não deliberamos quanto a oficialmente integrar a base de apoio do governo. Até porque é preciso saber como é que o governo quer compor essa base. Para mim não está claro isso. É preciso avançar nas conversas. É óbvio que nós queremos que o país avance, queremos ver a agenda das reformas avançar e temos a exata noção da responsabilidade que é o partido presidir as duas Casas, com Rodrigo [Maia (DEM-RJ), presidente da Câmar] e com Davi [Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado]. Mas é preciso ter mais clareza do governo de como é que ele quer compor essa maioria no Congresso.
O que o sr. acha do projeto de reforma da Previdência enviado pelo governo ao Congresso?
No geral a gente tem a concordância de que a reforma da Previdência precisa avançar. Como tema em si, eu não tenho dúvida de que a reforma da Previdência é, dentre todas, a mais importante para o país hoje. Até porque, se não houver mudança, os aposentados correm risco de não receber os seus direitos. Quanto aos detalhes do texto encaminhado pelo governo, eu ainda pretendo ter um pouco de cautela. As nossas bancadas na Câmara e no Senado estão estudando o assunto. É muito provável que a gente feche uma posição do partido em relação à reforma e aos seus principais pontos. Não quero avançar.
O que passa fácil?
Não diria que algo passe fácil. Há uma consciência geral de deputados e senadores e dos políticos do Brasil como um todo de que a reforma é essencial. Mas é óbvio que ela depende de articulação política. Sem articulação política não haverá reforma da Presidência. Cabe ao governo construir essa articulação.
Resistências?
É óbvio que vão existir. Vão haver movimentos sociais se contrapondo à reforma, pressões sobre os parlamentares, sobretudo de corporações e de setores específicos. Parece-me que há uma consciência maior de que ela precisa avançar. Aí é o governo que tem de ter capacidade de enfrentar e superar essas resistências. Tudo isso só se faz com articulação política.
Tem maioria?
É óbvio que hoje não temos uma base, uma maioria montada para aprovar a reforma. O governo tem tempo, mas hoje não há um cenário na Câmara e no Senado com os números necessários para aprovação. O desafio dos próximos meses é que o governo costure essa maioria.
Como anda a articulação para sua aprovação? O que falta?
Falta ao governo ser muito claro de como ele quer se relacionar com o Congresso, qual a base parlamentar que pretende ter. E como é que essa relação do Executivo com o Legislativo vai transcorrer pelos próximos quatro anos. Acho que essa é a expectativa geral de deputados e senadores.
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