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Tales Faria

Reforma da Previdência revela: ninguém manda no Congresso. Só o Centrão

Tales Faria

18/04/2019 10h53

Quer deixar líderes de partidos como PP, DEM, PR, MDB, PSD, PRB, PROS, PODE, PTB, SD, PSC e PHS irritados? Basta dizer-lhes que integram o Centrão.

"Não há Centrão. A imprensa insiste nessa classificação pejorativamente", costuma reclamar o líder do PP, Arthur Lira (AL).

De fato, hoje não existe formalmente esse bloco. Mas os líderes desses partidos mantêm, digamos, uma afinidade muito grande. Divergem pontualmente aqui e ali, mas com o meteórico enfraquecimento do governo de Jair Bolsonaro, tornaram-se a principal força do Congresso.

Descobriram que, juntos, têm capacidade de mobilizar 250 dos 513 deputados. O PT, que lidera a oposição, tem 56, o PSL do presidente Bolsonaro, 55, e os outros cerca de 150 se flutuam entre governo, oposição e Centrão.

Ou seja, para onde pender o Centrão, forma-se uma maioria avassaladora na Casa. Na Comissão de Constituição e Justiça, o governo tentou enfrentar o grupo num requerimento de inversão de pauta e perdeu por 50 a 5.

Os líderes do Centrão decidiram agora que o projeto só será aprovado se o governo abrir mão, já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), de alguns pontos do texto. Resultado: a votação foi adiada para a semana que vem.

O Centrão apareceu na política em 1987, durante a Assembleia Constituinte, para apoiar o então presidente José Sarney, acossado pelo então poderosíssimo presidente da Câmara,  Ulysses Guimarães (MDB-SP).

Era integrado por uma parte do MDB que se aliou ao PFL, PDS, PTB, PL e PDC.

Reapareceu com o apelido de Blocão por iniciativa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Novamente reunia um grupo de agremiações sem plataforma ideológica definida, mas com coloração de centro direita: PMBD, PP, PTB, PR, PSC, PROS, SD, PRB, PSD, PEN, PSL, PTN, PHS, PTdoB e uma parcela do DEM. Enfim, uma salada.

Com a queda de Eduardo Cunha, o Centrão voltou a se reunir em torno da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Câmara. A vitória foi expressiva quando Maia conseguiu o apoio de partidos de esquerda.

Alguns dos partidos do Centrão chegaram a formalizar uma união para apoiar a campanha de Maia a presidente da República. Depois, junto com seu candidato, apoiaram o tucano Geraldo Alckmin.

Derrotados por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral, Maia, o PSDB e o Centrão passaram a manter um diálogo muito próximo.

O presidente da Câmara sabe que, mais do que poder próprio, sua força agora está na proximidade com o Centrão. E na capacidade de atrair, ora a esquerda, ora o governo para votar junto com o grupo.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.