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Tales Faria

Bolsonaro apaga o fogo das crises com gasolina

Tales Faria

10/05/2019 14h18

Agora a briga é entre o partido do p´residente da República, o PSL, e seu principal ministro político, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Onyx fechou acordo com o Centrão e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) para votação da medida provisória 870 no plenário da Câmara ainda na tarde de ontem, conforme aprovada pela manhã na comissão especial:

Principais pontos da Medida Provisória 870/2019
CoafO Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) fica sob a responsabilidade do Ministério da Economia e não da Justiça e Segurança Pública, como queria o ministro Sérgio Moro.
Auditores fiscaisA atuação dos auditores fiscais da Receita fica limitada a crimes de natureza fiscal, proibindo que indícios de crimes não tributários encontrados pelos auditores sejam compartilhados com outras autoridades sem autorização judicial.
FunaiA Fundação Nacional do Índio (Funai) fica vinculada ao Ministério da Justiça e não ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Demarcação de terrasO processo de demarcação de terras indígenas, fica também a cargo da Funai e não ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Ministério do TrabalhoFoi extinto o Ministério do Trabalho, que teve suas atribuições divididas entre três pastas: Economia, Justiça e Cidadania
Desenvolvimento RegionalO Ministério de Desenvolvimento Regional foi dividido em duas pastas: Integração Nacional e Cidades.
CulturaA extinção dos ministério da Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social foi mantida e suas atribuições incorporadas pelo Ministério da Cidadania.
ConseaO Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que havia sido extinto, volta entre os órgãos que integram a estrutura do Ministério da Cidadania.
DenatranO Departamento Nacional de Trânsito fica vinculado ao Ministério da Infraestrutura, que absorveu também o antigo Ministério de Transportes, Portos e Aviação Civil.
DnitNão há mais necessidade de arguição pelo Senado dos indicados à direção do Departamento Nacional de Trânsito. O relator alegou que, por se tratar de autarquia comum e não agência reguladora, não há necessidade de tal referendo. Os diretores do Dnit não têm mandato e podem ser substituídos a qualquer tempo.

Fonte: Agência Senado

Mas o PSL não aceitou, principalmente, a volta do Coaf para o Ministério da Economia e a limitação ao trabalho dos auditores fiscais.

O partido surpreendeu o Planalto boicotando a votação em plenário.

No final da tarde, Onyx deu uma bronca no líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), a quem responsabilizou pela falta de controle sobre o partido. O ministro disse a líderes aliados que, a partir de agora, lavava as mãos para a permanência de Vitor Hugo como líder.

Vitor Hugo voltou à Câmara e procurou os deputados do PSL. A bancada foi em romaria ao Palácio encontrar o presidente Bolsonaro. Reclamou do acordo fechado por Onyx e o presidente da Câmara.

O PSL insistiu com Bolsonaro em bater chapa com o Centrão e a oposição para manter o Coaf no Ministério da Justiça e não permitir limitação ao trabalho dos auditores fiscais.

Bolsonaro simplesmente autorizou o embate.

Agora ou Rodrigo Maia e Onyx engolem a derrota, ou o partido do presidente da República será humilhado em Praça Pública.

Esse é o jeito Bolsonaro de resolver encrencas.

O mesmo aconteceu na guerra entre os militares, de um lado, e seus filhos e o guru Olavo de Carvalho, de outro. Com o apoio dos bolsonaristas de raiz, Olavo de Carvalho xingou o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, o quanto quis.

Bolsonaro simplesmente disse que militares estão habilitados para lidar com guerras e para engolir sapos. Enfim, também jogou gasolina na fogueira. Aparentemente, os militares engoliram es desaforos e silenciaram.

Reta ver agora se a mesma estratégia do presidente dará certo contra Rodrigo Maia, Onyx e o Centrão.

Deputado Luiz Lima (PSL-RJ) defende manter Coaf com Moro

UOL Notícias

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.