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Tales Faria

Não existem ateus no STF. “E à toa é que não existe”, brinca Marco Aurélio

Tales Faria

01/06/2019 16h25

O presidente Jair Bolsonaro disse que está na hora de um evangélico ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal.

Segundo o último censo do IBGE, havia em 2010 cerca de 64,6% de católicos no país; 22,2% de evangélicos; 2,4% de espíritas e animistas (religiões de base africana); 10,6% de ateus e outras religiões.

Ou seja, a se levar a sério a proposta do presidente, dos 11 ministros do STF, pelo menos dois deviam ser evangélicos; seis, católicos e os 3 restantes com um revezamento entre espíritas, umbandistas, budistas, judeus, ateus etc. Será que Bolsonaro concordaria?

No Supremo, hoje, quase todos são católicos, ou seja, cristãos, como gosta Bolsonaro. A começar pelo presidente da Corte, o ministro Dias Toffoli. De resto, há um judeu, Luiz Fux; um ministro "espiritualizado sem ser religioso", Luís Roberto Barroso; e um agnóstico, Celso de Mello.

O ministro Marco Aurélio Mello é católico, mas não acha importante a denominação religiosa na escolha dos membros da Corte. "O Supremo não é um tribunal eclesiástico, religioso", disse ao blog.

Marco Aurélio explica que os ministros têm que levar em conta o trinômio Lei, Direito e Justiça:

"Com enfoque maior da Constituição Federal. Cada qual tem formação humanística própria, e nesta entra a concepção religiosa. Não posso negar que repercute na formação do convencimento. O que não cabe é fechar a Constituição, menosprezar as normas legais e constitucionais e potencializar o enfoque religioso."

Luiz Roberto Barroso é filho de mãe judia e pai católico. Diz que não quer entrar na polêmica com Bolsonaro. Mas explica que sua religião é feita por ele mesmo:

"Tem Torá, Evangelhos, Buda, Aristóteles, Kant e influência de textos de uma organização espiritual chamada Brahma Kumaris, de filosofia oriental. Minha fé racional é que a história é uma marcha contínua na direção do bem e do avanço civilizatório."

Ou seja, podem não existir evangélicos, umbandistas nem ateus no Supremo. Mas, como disse ao blog o ministro Marco Aurélio, "à toa é que não existe".

 

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.