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Tales Faria

O Centrão desceu do muro e foi abduzido pelas pautas econômicas do governo

Tales Faria

14/06/2019 08h38

 

De repente, não mais que de repente, o Centrão –aquele grupo de partidos com cerca de 200 deputados que dita os rumos do Congresso–parou de criar problemas para o governo.

"Agora estamos num jogo de ganha-ganha. Nós e o governo entendemos que, antes, estávamos num jogo de perde-perde", explica o deputado Efraim Filho (PB), ex-líder e um dos caciques do DEM, em entrevista ao blog (vídeo acima);

Efraim revela que o acordo tácito com o governo funcionará para as pautas econômicas. Nas pautas de costumes, é cada um por si.

Por conta disso, notou-se no Congresso que PP, DEM, PL, PSD, PRB, SD e demais partidos do chamado Centrão passaram a dar velocidade à tramitação das matérias econômicas da pauta.

Depois de algumas quedas de braço com o Planalto, o grupo também parece ter ensinado o presidente Jair Bolsonaro a negociar.

Mais do que cargos, o Orçamento passou a ser a chave da negociação, admite Efraim.

No que consiste essa "nova política"?

Os parlamentares aprovaram uma emenda constitucional determinando que todas as emendas –individuais e de bancadas– agora obrigatoriamente têm que ser liberadas.

E o governo ainda mantém algum poder: ele determina o fluxo de liberação dessas verbas. É o que está se chamando no Congresso de parlamentarismo branco.

Por conta desse acordo tácito, a reforma da Previdência ganhou nova força.

O relator apresentou um parecer contemplando quase R1 trilhão de poupança para os Tesouro nos próximos dez anos, que era quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes vinha pedindo. E o presidente da Comissão especial, Marcelo Ramos (PL-AM), abandonou a postura oposicionista das semanas anteriores.

Efraim de Moraes fala até na possibilidade de adiamento do recesso parlamentar para dar tempo de votar a reforma na Comissão no primeiro semestre. É difícil, mas não é impossível.

Nesta semana ocorreu um feito inédito: o projeto de suplementação orçamentária de R$ 248,9 bilhões em créditos para o governo obteve o voto favorável de 450 deputados e 61 senadores, sem nenhum contra. Unanimidade dos presentes em plenário.

Capitaneado pelo Centrão, o governo cedeu a praticamente todos os partidos, da esquerda e da direita, da oposição e da chamada base governista. E acabou obtendo a aprovação do projeto.

Se fosse derrotado, estaria sujeito a quebrar a chamada "regra de ouro do orçamento", o que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

A estratégia agora é essa: quando o assunto for economia, liderados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os partidos do Centrão negociarão uma solução.

E se a oposição quiser participar, poderá até tirar uma casquinha, como foi o caso da suplementação orçamentária.

Os partidos de esquerda negociaram e conseguiram garantir o descontingenciamento de R$ 1 bilhão para a educação, outro R$ 1 bilhão para o Minha Casa Minha Vida, R$ 350 milhõs para Ciência e Tecnologia e R$ 550 milhões para transposição do Rio São Francisco e para a Defesa Civil.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.