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Tales Faria

Para relator, não se conclui reforma tributária neste ano "de jeito nenhum"

Tales Faria

20/07/2019 04h00

 

Roberto Rocha (PSDB-MA) é o relator da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Em entrevista ao blog, ele disse que o projeto será aprovado na Casa antes da Câmara.

O texto do Senado foi elaborado pelo ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) e chegou a ser aprovado pela comissão especial da Câmara. Mas não foi votado em plenário. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), resolveu subscrever o texto do deputado e iniciar a tramitação nesta Casa.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apadrinhou outro texto, que está agora em avaliação na comissão especial. É assinado pelo líder do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), e foi redigido pelo economista Bernard Appy.

A tramitação de emendas constitucionais no Senado é diferente da Câmara. Não precisa passar por uma comissão especial. Sai direto da CCJ para o plenário.

Segundo o senador Roberto Rocha, apesar de o Senado votar o projeto antes da Câmara, não haverá tempo para promulgação ainda neste ano.

Roberto Rocha também revelou ao blog que, nesta quinta-feira (18), acertou com o presidente Jair Bolsonaro que o Executivo ajudará o Senado a ter protagonismo na elaboração das novas regras sobre tributos.

Ele também disse que é contra a proposta de uma nova contribuição sobre movimentações financeiras, ideia que circula no Ministério da Economia com o apoio do secretário especial da Receita, Marcos Cintra.

Marcos Cintra é também o idealizador da proposta de imposto único, que resultou em projetos apresentados pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e pelo presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE).

O relator não parece ser simpático à ideia. Veja abaixo o que disse ao blog:

Há dois projetos de reforma tributária, no Senado e na Câmara. Qual o senhor acha que será aprovado antes?

Vamos dar total dedicação para votar no Senado em 100 dias, no máximo. Aqui a tramitação é muito mais rápida do que na Câmara.

Quando o senhor apresenta seu relatório?

Na primeira sessão da CCJ apresento nosso plano de trabalho. A partir daí definimos a data exata do relatório. Vamos dialogar com todos os segmentos interessados: governos federal, estaduais e municipais; a Indústria, o comércio e serviços; profissionais liberais, sindicatos. Todos, enfim. Penso que dois terços dos 100 dias serão para essas audiências. Então, poderemos entregar o relatório em dois meses e meio, a partir de agosto. Acho que até novembro temos o texto aprovado no Senado.

O que o senhor pensa das afirmações de que a reforma tributária dificilmente sairá do papel. Afinal, são tantos os interesses envolvidos…

Há os que se queixam do vento e os que esperam que ele mude. Há ainda os que procuram ajustar as velas. No Senado, arrumamos o barco, ajustamos as velas, e estamos todos motivados e remando na mesma direção, porque remar é preciso. Sabemos que a água que afunda o barco é a de dentro.

Ou seja, o senhor acha que a reforma tributária, desta vez, sai.

Agora vai. Pode anotar: agora vai! A reforma da Previdência que foi votada na Câmara tem como foco a despesa. Ela estanca uma hemorragia. É fundamental. Mas a reforma tributária é que tem o foco na receita. É decisiva para acelerar o crescimento econômico, criando um bom ambiente de negócios no Brasil com segurança jurídica. O que falta no Brasil, sobra no mundo: dinheiro. Por isso temos que aprovar a reforma tributária. A sociedade já está convencida disso.

O senhor disse que no Senado é mais rápido que na Câmara. Mas o texto da Câmara já passou pela CCJ lá. Só falta a comissão especial. E os deputados estarão livres, daqui a pouco, da reforma da Previdência. No Senado, a Previdência vai tomar tempo e prioridade. Como fazer para superar essa dificuldade?

A Câmara teve o protagonismo na reforma da Previdência. Agora é a vez do Senado. Eu estive com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (20). Ficou claro que o protagonismo na reforma tributária será nosso. Mais: eu sou relator. Sou do PSDB. Na reforma da Previdência, o secretário especial do Ministério da Economia que ajudou a formular o texto pelo Executivo foi o Rogério Marinho, que é um ex-deputado do PSDB. O relator da reforma da Previdência na Câmara, também é do partido. Assim como o relator no Senado será o Tasso Jereissati (PSDB-CE). E nós no PSDB já fechamos questão pela nova Previdência. Portanto, vamos apressá-la aqui. E haverá espaço para avançar na reforma tributária.

Mas fica uma dúvida: se a reforma tributária for aprovada em novembro no Senado –quando então será mandada para a Câmara– não dará tempo de ser promulgada ainda este ano.

Nunca!

Nunca? Não entendi, desculpa. Dá tempo ou não dá, de a reforma tributária ser promulgada neste ano, já que chegará na Câmara em novembro?

Não dá e não daria tempo de jeito nenhum.

Outra coisa: o que o senhor acha da volta de uma taxação sobre transações financeiras? O senhor é contra ou a favor?

A princípio, sou contra. Mas tudo isso será analisado mais adiante.

Também circula a ideia de um imposto único

Pois é. Têm muitas ideias.  Essa é do ex-deputado Flávio Rocha (PRB-RN), que tem um olhar muito do varejo, que é o negócio dele [Flávio Rocha foi presidente das Lojas Riachuelo e o primeiro deputado a dar entrada na proposta de Marcos Cintra]. Isso tudo vai ser analisado, não vamos nos adiantar.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.