Para Marco Aurélio Mello, do STF, “apenas criando mordaça” Bolsonaro cala
O ministro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Federal (STF) está muito, muito preocupado com o destempero verbal do presidente Jair Bolsonaro.
"Tempos estranhos. Aonde vamos parar?"
Foi com essa pergunta que respondeu à indagação do blog sobre como fazer para acabar com as sucessivas falas destemperadas de um presidente da República.
Na sua última demonstração de irritação, Bolsonaro sugeriu que Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e desaparecido depois que foi preso durante a ditadura militar, teria sido assassinado por companheiros esquerdistas que suspeitavam de traição.
Marco Aurélio Mello aponta o que seria uma solução para evitar falas desse tipo do presidente, mas insiste que pessoalmente não concordaria:
"No mais, apenas criando um aparelho de mordaça", disse ao blog.
Ele fez questão de telefonar depois (às 17h30) acrescentando: "Como democrata, no entanto, não posso concordar com a censura. Não sugiro que o presidente use mordaça."
Um outro ministro do STF ouvido pelo blog sob a condição de anonimato argumentou:
"O pior de tudo é o mau exemplo, a associação do sucesso político ou qualquer outro à incivilidade e à grosseria. Por outro lado, acho que pode ser um marco de como as pessoas não devem ser. A repugnância tem sido geral."
No último dia 24, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos expediu atestado de óbito de Fernando Santa Cruz de Oliveira.
O documento afirma que ele "faleceu provavelmente no dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro/RJ, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o ex-delegado Cláudio Guerra, do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Sociais), confessou ter incinerado o corpo de Fernando Santa Cruz e outros nove presos políticos no forno de um engenho de cana de açúcar em Campos, cidade do norte do Rio de Janeiro.
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