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Tales Faria

Após Previdência, eleições é que são prioridade de Rodrigo Maia e Bolsonaro

Tales Faria

11/08/2019 04h00

Passada a votação da reforma da Previdência na Câmara começou a reforma tributária. Certo?

Mais ou menos.

Depois das mudanças previdenciárias, começou, na verdade, a campanha eleitoral de 2022.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o mandatário do Planalto, Jair Bolsonaro, terão como prioridade absoluta derrubar a chances do outro de disputar e vencer as próximas eleições presidenciais.

Daí porque Rodrigo Maia ter feito questão de posar como o pai das reformas e, em uma de suas primeiras entrevistas após a votação da Previdência na Câmara, ter declarado: "Bolsonaro é produto de nossos erros".

O presidente retrucou usando, como costuma, o filho pitbull.  O vereador Carlos Bolsonaro (PSC) providenciou um tuíte lembrando o apelido "Nhonho" do presidente da Câmara e postando um vídeo em que o gordinho do seriado Chávez nega biscoitos aos colegas.

No entanto, não é Rodrigo que Bolsonaro considera como seu principal adversário, mas sim a economia. Se a economia estiver bem, o presidente acredita que será candidato à reeleição com grandes chances. Se economia desandar, dependendo do quanto, ele pode nem tentar se reeleger.

Rodrigo Maia, por sua vez, vê como principal adversário não Bolsonaro, mas um aliado no campo da direita. Trata-se do primeiro colocado na lista de candidatos do establishment no momento: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Doria vem de duas vitórias eleitorais seguidas, para prefeito e para governador de São Paulo com milhões de votos. Rodrigo Maia fez apenas 95.328 (2,94% dos votos válidos) quando disputou a Prefeitura do Rio em 2012. O vencedor, Eduardo Paes (PMDB), teve 2 milhões de votos. Para deputado federal, em 2018, ele foi o 13º colocado de 30 eleitos, com o apoio de apenas 74.232 eleitores. O primeiro colocado teve 345.234. Foi o bolsonarista Helio Fernando Barbosa, aquele deputado negro que sempre posa ao lado do presidente nas viagens.

Os políticos não consideram hoje o presidente da Câmara com chances de conquistar a necessária simpatia popular para disputar uma eleição presidencial. Na verdade, nem seus mais fiéis aliados no Congresso acreditam ser possível.

Mas Rodrigo Maia tem dito aos incrédulos mais próximos que sim, acha possível vencer.

A sua aposta é que João Doria chegará a 2022 desgastado no governo de São Paulo em sem condições de concorrer ao Planalto.

Maia seria, nesse caso, o nome preferido do establishment, já que demonstrou confiabilidade e capacidade de articulação para aprovar as teses econômicas mais complexas do interesse dos empresários e banqueiros do país.

Os arroubos autoritários de Bolsonaro não inspiram muita confiança no empresariado. E o presidente da Câmara tem lembrado aos amigos que o tucano Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente quando, pouco antes, se acreditava que não se elegeria nem para deputado federal.

Independentemente de quem deles esteja certo, só há uma certeza: Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia pretendem disputar palmo a palmo todos os temas políticos daqui para a frente.

O primeiro passo são as votações no Congresso, como a reforma tributária, a inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência, o sistema de capitalização, o projeto de segurança do ministro da Justiça, Sérgio Moro, etc.

São todos assuntos decisivos. E é da briga dos dois que que o país depende.

O segundo estágio da disputa serão as eleições municipais de 2020.

Maia e seu partido, o DEM já avançam sobre possíveis dissidentes do partido de Bolsonaro, o PSL, como o deputado Alexandre Frota (SP). O presidente da Câmara convidou Frota para o DEM.

Cogita-se até que o deputado por São Paulo possa transferir seu título para o Rio de Janeiro, sua cidade de origem, a fim de disputar a Prefeitura.

Bolsonaro, por sua vez, planeja seduzir os deputados do Centrão, grupo de partidos que tem dado sustentação a Rodrigo Maia na Câmara. A ideia é utilizar a força do governo federal para formar alianças do PSL com PP, MDB, PSD, PL, SD e PRB nas eleições municipais.

A partir daí, esses partidos entrariam definitivamente na base do governo no Congresso, abandonando o comando de Rodrigo Maia.

A disputa entre o mandatário do Planalto e o hoje poderoso presidente da Câmara promete ainda muitas trocas de farpas, armadilhas e votações surpreendentes pela frente.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.