Topo

Tales Faria

PSDB não votou a favor de Aécio Neves, foi contra João Doria

Tales Faria

22/08/2019 09h49

"Não sou ligada ao Aécio Neves, ele nunca fez nada por mim quando estava no auge. Mas votei contra sua expulsão porque não acho que as coisas se fazem assim", disse ao blog a deputada Bruna Furlan (SP).

"Meu voto não foi a favor do Aécio. Não tenho nada com ele", explicou.

Bruna é um dos seis vice-presidentes nacionais do partido que ontem participaram da reunião da Executiva da legenda. Por 30 votos a 4, e uma abstenção, o PSDB decidiu não expulsar o deputado mineiro e candidato Presidência da República em 2014.

O blog perguntou à deputada: "A senhora disse que as coisas não se fazem assim? Como?"

E Bruna explicou: "Não dá para alguém dizer que devemos expulsar um membro do partido e, pronto, expulsamos. Temos que ter critérios, porque eles protegem a nós todos. Hoje é o Aécio, amanhã o escolhido pode ser qualquer outro."

Ela não citou o nome do governador de São Paulo, João Doria. Em entrevista a Josias de Souza publicada ontem no UOL, o cacique tucano cobrou a saída de Aécio.

Até ontem, tanto Doria como os analistas políticos acreditavam que ele detinha o controle da legenda.

A vice-presidente não citou o governador, mas é evidente que esse "alguém" a que ela se referiu é o próprio Doria.

O mesmo raciocínio de Bruna foi repetido ao blog, com pedido para não revelar seus nomes, por outros integrantes da Executiva. Eles dizem, em suma: mesmo com todos os indícios contra Aécio, ele não pode ser pré-julgado pelo partido. Somente depois de uma decisão judicial seria correto tomar uma atitude.

Doria quis antecipar a decisão a fim de se livrar, antes da campanha eleitoral do ano que vem, do peso que a má imagem do deputado traz para a legenda.

O governador está de olho na candidatura a presidente da República em 2022. Para isso, considera fundamental que o PSDB tenha um bom resultado nas eleições municipais de 2020, especialmente em seu estado, São Paulo.

Provável candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro já informou a seu partido, o PSL, que considera prioridade absoluta derrotar Doria no estado de São Paulo nas eleições do ano que vem.

Tudo bem, os demais integrantes do PSDB também querem que o partido se saia bem das urnas já em 2020. Mas não querem entrar na campanha sob um comando ditatorial na legenda.

Outros caciques, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Serra (SP), aproveitaram a votação da Executiva para dar um recado a Doria: ele está forte no PSDB, mas não manda sozinho.

E o governador, por sua vez, mostrou que ainda precisa aprender a se compor politicamente. Não basta ligar o trator.

Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.