Com aceno de Doria, veto a Abuso de Autoridade define se Moro fica ministro
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, recebeu um recado do governador de São Paulo, o tucano João Doria: se ele deixar o governo Jair Bolsonaro, terá lugar assegurado no secretariado paulista.
Doria não definiu o cargo exato, mas terá certamente relação com o combate à corrupção.
Ou seja, o ministro e ex-juiz da Lava Jato continuará com um palanque na política se deixar o comando do Ministério da Justiça.
Sérgio Moro foi pressionado por integrantes da força tarefa da Lava Jato a deixar o cargo, depois que Bolsonaro decidiu transformar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em Unidade de Inteligência Financeira (UIF) subordinada ao Banco Central.
Ele respondeu às pressões condicionando sua permanência no governo aos vetos à Lei do Abuso de Autoridade. O presidente Jair Bolsonaro tem prazo legal para promulgar a nova lei De 15 dias úteis .
Coaf, o maior desconforto
Com a mudança do Coaf para UIF do Banco Central, foi demitido o ex-auditor-fiscal da área de inteligência da Receita Federal Roberto Leonel de Oliveira Lima, que ocupava a presidência do Coaf por indicação de Moro. Leonel integrou a equipe da Lava Jato.
Para os aliados de Moro na força tarefa da Lava Jato essa decisão de Bolsonaro tem a ver com o desejo do presidente de se aproximar dos partidos do chamado Centrão, no Congresso, satisfazendo os desejos da chamada velha política.
Uma aproximação que atenderia a duas prioridades do presidente:
- aprovar no Congresso a indicação de um filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a embaixador no EUA;
- e preservar o outro filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), cujas movimentações financeiras suspeitas em seu gabinete quando deputado estadual no Rio foram levantadas pelo Coaf.
Sérgio Moro respondeu às pressões dizendo que ainda há questões a serem resolvidas dentro do governo federal, como a promulgação da Lei do Abuso de Autoridade aprovada pelo Congresso.
Juízes, procuradores da República e policiais federais consideram a Lei um impedimento à atuação dessas categorias no combate ao crime e à corrupção.
O coordenador da força tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, classifica a nova lei como uma "verdadeira retaliação" dos políticos aos processos abertos pela Lava Jato.
Os vetos
Sérgio Moro reuniu-se com o presidente Bolsonaro, no último dia 19 e pediu que o presidente vete 9 artigos. Além de modificações menos importantes em dois artigos, os vetos seriam:
Artigo 9 – que estabelece punições ao juiz que atue em "desconformidade com as normas legais";
Artigo 16 – que exige identifição da autoridade durante ato de prisão;
Artigo 17 – que estabelece limites ´para o uso de algemas;
Artigo 22 – que proíbe uso "ostensivo e desproporcional" de veículos e armamentos que exponham o investigado a situação de vexame;
Artigo 26 – que proíbe induzir investigado a praticar infração para capturá-lo;
Artigo 43 – que configura como crime passível de detenção a violação de alguns direitos dos advogados;
Artigos 3, 30 e 34 – que já estariam cobertos, na opinião da Lava Jato, por outras disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
Também entidades de policiais estão pedindo vetos à Lei. Concordam com o ministro nas restrições aos artigos 17 e 22 e acrescentam a reivindicação de vetos a outros 7 artigos:
Artigo 4 – que estabelece perda de cargo em caso de prática de tortura;
Artigo 5 – que cria o mecanismo de transferência de localidade do trabalho por até 3 anos como um novo tipo de punição para infrações dos policiais;
Artigo 13 – que proíbe exposição do preso ao público;
Artigo 14 – que proíbe que se permita que presos sejam fotografados;
Artigo 23 e 24 – que estabelecem punições para alterações propositais nas cenas de detenção;
Artigo 35 – que tipifica a coibição irregular de agrupamentos; humanos.
O presidente tem até o próximo dia 4, para promulgar a lei com os vetos que decidir. No Palácio do Planalto é grande a preocupação em se chegar numa fórmula que não melindre Sérgio Moro.
Os auxiliares do presidente têm consciência de que um rompimento do ministro com o governo pode provocar a maior debandada entre os bolsonaristas desde que o presidente foi eleito. Provavelmente maior até do que o incêndio na floresta amazônica.
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