"Bolsonaro é Centrão: retrocede no combate à corrupção", diz Álvaro Dias
A saída iminente do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, já é objeto de críticas de defensores da Operação Lava Jato.
Líder do Podemos no Senado, o paranaense Álvaro Dias é um dos políticos mais próximos do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do relator dos processos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin.
Segundo ele, Bolsonaro é um integrante do Centrão, grupo de partidos de centro que o presidente chamava de "velha política" e controla as votações no Congresso.
Para o senador, o governo está cometendo "retrocessos imperdoáveis " com o afastamento de Valeixo, além do ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra e do ex-presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Fiscais) Roberto Leonel.
Dias também critica a nomeação de Augusto Aras para procurador-geral da República, escolhido fora da lista tríplice do Ministério Público Federal.
Seu partido já é a segunda maior bancada na Câmara, com chances de se tornar a maior nas próximas semanas. Se isto ocorrer, Dias será forte candidato a presidente do Senado.
Nesta quarta-feira (19) o Podemos passará a ter 11 senadores, com a filiação de Juíza Selma (MT). Ainda maior bancada, o MDB está em uma má fase após o governo Michel Temer e com o envolvimento de caciques do partido em denúncias de corrupção.
Álvaro Dias é também um dos integrantes do grupo Muda Senado, que critica a administração de Davi Alcolumbre (DEM-AP) e seu atrelamento ao governo.
Em entrevista ao blog, ele conta ainda que votará contra a nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, para embaixador nos EUA.
O presidente Bolsonaro afastou os chefes da Receita Federal e do Coaf . Também ameaça mudar o diretor-geral da PF. O senhor acha que o governo está voltando atrás no discurso anticorrupção da campanha eleitoral?
Álvaro Dias – São retrocessos imperdoáveis. A agenda de prioridades da campanha colocava em primeiro lugar o combate à corrupção. Muitos dos eleitos se esqueceram. Mas os eleitores, não. Impossível ignorar retrocessos produzidos no poder Executivo. O fim do Coaf, a invasão de competências da Receita e da PF, pressões sobre o Supremo Tribunal Federal (STF)… São peças desse tabuleiro da conspiração contra a Lava Jato na contramão da pregação eleitoral.
O sr. vê alguma aproximação do presidente da República com o Centrão?
O presidente eleito não é diferente do deputado Bolsonaro, que exerceu mandatos consecutivos pelo Rio de Janeiro. Ele sempre foi do Centrão. Na campanha deixou claro que não abriria mão de direitos que a sociedade considera privilégios e, ao mesmo tempo, confessava desconhecimento de questões que são fundamentais para mudar o país. Foi sincero. Remetia sempre ao "Posto Ipiranga", o ministro Paulo Guedes. Não podemos dizer que enganou o eleitor.
O que achou da indicação de Augusto Aras para chefe da Procuradoria Geral da República?
É prerrogativa do presidente a escolha. Seria adequada se tivesse avisado antes que a eleição de uma lista tríplice seria em vão. Não deixa de ser um desrespeito aos qualificados profissionais do Ministério Público Federal ignorar o processo eleitoral que mobilizou uma instituição. Por sua importância, o MP deve ser valorizado e não diminuído.
Como o sr. votará?
Vamos ouvir primeiro. Teremos reunião com nossa bancada e, depois, a sabatina. Só então decidiremos.
E quanto à indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixador, qual sua posição?
O registro de minha posição formalizei em PEC que tramita no Senado conferindo exclusividade a integrantes da diplomacia de carreira. Trata se de aderir à meritocracia, valorizando o preparo, a qualificação técnica e profissional.
Posso concluir que o sr votará contra a nomeação?
Sim.
O Podemos será o maior partido do Senado? A partir de quando?
Vamos crescer mais sim, pela manifestação de vontade de alguns senadores. Ser a maior bancada pode ser a consequência, mas não é o objetivo prioritário. Procuramos crescer com qualidade. Antes de cada convite buscamos aprovação da bancada.
O sr integra o movimento "Muda Senado". O que é preciso mudar no Senado?
Precisamos trazer para dentro do Senado as aspirações da população. O objetivo do "Muda Senado, Muda Brasil" é fazer a leitura correta das prioridades eleitas pela população e tornar se porta voz delas. Unidos seremos mais fortes para influenciar a pauta do dia a dia do Parlamento.
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