Sigilo de dados: Câmara planeja para hoje primeira derrota de Bolsonaro
Tales Faria
19/02/2019 14h24
O governo Jair Bolsonaro tem grande chance de sofrer hoje sua primeira derrota no Congresso. O Colégio de líderes decidiu votar até o final do dia o decreto Decreto 9.690 assinado pelo presidente interino da República, Hamilton Mourão, e pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, quando o presidente estava em Davos (Suíça).
O decreto foi publicado no dia 24 de janeiro no Diário Oficial com a concordância expressa do presidente Jair Bolsonaro. Alterou a Lei de Acesso à Informação, permitindo que ocupantes de cargos comissionados classifiquem quaisquer dados do governo como ultrassecretas nos casos em que sua divulgação "ameace a segurança da sociedade ou do Estado".
Na prática, o texto ampliou o sigilo sobre informações governamentais. As regras originais previam que somente pessoas em altos postos da República poderiam decidir se uma informação deveria ser tratada com o mais alto nível de segredo: o presidente da República, o vice-presidente, os ministros de Estado, os comandantes das Forças Armadas e os embaixadores brasileiros no exterior.
Nesta manhã, em reunião comandada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os líderes se manifestaram contra o decreto presidencial e decidiram colocá-lo em votação imediatamente. Somente o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), foi contrário.
"O decreto será derrubado. Todos os líderes são contra. É inconstitucional", disse ao blog do líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA). Ele acredita que até mesmo o PSL de Bolsonaro deverá votar majoritariamente contra. "Quem vai querer se manifestar contra a divulgação das informações publicas?", pergunta.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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