Líderes partidários não garantem apoio ao texto da reforma da Previdência
Tales Faria
20/02/2019 18h28
A reforma previdenciária ainda vai percorrer um longo caminho de negociações e mudanças antes de ser aprovada pelo Congresso. Se for!
Os líderes partidários não garantiram apoio ao texto apresentado hoje pelo governo. No geral, os partidos que tendem a apoiar o governo –e consequentemente a reforma– esperam uma definição do Planalto quanto ao espaço que terão na repartição do poder.
Nem mesmo o Delegado Waldir (PSL-GO), líder da sigla do presidente Jair Bolsonaro, quis prometer apoio total.
"Não posso dizer o que achamos do texto enquanto não analisar mais profundamente. A princípio a bancada é favorável. Mas vamos ter que estudar os detalhes para saber o que apoiaremos e o que precisará ser modificado", disse ao blog.
Um dos maiores motivos da incerteza está na desorganização da articulação política do governo.
"A boa vontade é geral. Todos reconhecem a necessidade de ajustar as contas da Previdência. Mas quanto a esse projeto do governo, nem sequer se sabe ainda quais partidos integram a base governista. Isso vai ter que ser definido ao longo do processo", disse o líder do MDB, Baleia Rossi (SP).
O antigo Centrão –bloco de partidos sem nitidez ideológica que reúne a maior parte dos deputados do chamado baixo clero– será decisivo na formação dessa base governista. E, portanto, para saber se o governo terá os 308 votos necessários à provação de emendas constitucionais.
Arthur Lira (AL), líder do maior partido desse grupo, o PP, resolveu não comparecer à cerimônia em que o presidente Jair Bolsonaro entregou o texto do projeto aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). [nota da redação às 23h15: a assessoria do deputado informa que ele viajou para Nova York na noite de ontem, para participar de evento da Organização das Nações Unidas em Nova York, amanhã e sexta-feira]
O presidente do PRB, deputado Marcos Pereira (SP), postou no Twitter na mesma linha: "A ausência dos militares das Forças Armadas na proposta de reforma da Previdência enviada hoje por Bolsonaro à Câmara é um sinal ruim para a sociedade e pode dificultar o andamento da proposta entre os deputados".
Artur Maia (DEM-BA) foi relator do projeto do governo Michel Temer. Seu texto, considerado mais brando que o atual, nem chegou a ser votado em plenário. Ao blog, ele disse considerar "muito difícil aprovar" a desconstitucionalização da idade mínima e do tempo de contribuição.
De fato, a desconstitucionalização de pontos da reforma é considerada inaceitável pelos partidos de esquerda. "Isso nem dá para negociar, tal o absurdo", disse a líder do bloco de oposição, Jandira Feghalli (PCdoB-RJ).
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
Sobre o blog
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