A pauta-bomba contra Dilma explodiu no colo de Bolsonaro
Tales Faria
26/03/2019 21h43
O projeto de orçamento impositivo aprovado na noite desta terça-feira (26) pela Câmara é oposto à proposta aventada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de desvinculação completa das receitas da União.
Na prática, além de obrigar o governo a executar todas as emendas —coletivas ou individuais— que os parlamentares apresentem a partir de 2020, a proposta tira do poder Executivo espaço para remanejar despesas.
Foi uma pauta-bomba apresentada em fevereiro de 2015 pelo deputado Hélio Leite (DEM-PA). Teve o apoio do então deputado Jair Bolsonaro e de seu filho mais novo e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O impeachment da ex-presidente chegou antes da aprovação da matéria.
Ao blog, o líder se justificou da seguinte forma: "Ué, o próprio ministro Paulo Guedes tem defendido a adoção do Orçamento impositivo".
Nem o líder do governo na Câmara, deputado Victor Hugo (PSL-GO), teve coragem de encaminhar contra, para não admitir a derrota do Planalto.
Joyce Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, foi uma das poucas deputadas a votar contra o projeto.
O presidente da Câmara tem batido boca nos últimos dias publicamente com Jair Bolsonaro e seu filho Carlos, o "Zero-2".
"É a adoção do parlamentarismo", disse o líder do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), "uma derrota retumbante do governo", completou.
"Não entendo como vitória ou derrota. Trata-se apenas de uma atribuição do Legislativo, cuidar do Orçamento", disse o líder do PP, Arthur Lira (AL).
"Eu não diria que é o parlamentarismo. Mas um passo contra o toma lá dá cá, sim", diz o líder do MDB, Baleia Rossi (SP).
O governo ainda pode protelar sua adoção. A proposta de emenda constitucional (PEC) ainda terá que ser votada pelo Senado.
Mas a Câmara deixou o chefe do Executivo em maus lençóis.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
Sobre o blog
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