Para líder do PP, número da Previdência pode ser do Carlos Bolsonaro
Tales Faria
25/04/2019 23h26
Na conversa de hoje pela manhã com jornalistas, o presidente Jair Bolsonaro voltou a surpreender seu ministro da Economia e irritar os aliados da reforma da Previdência no Congresso .
Bolsonaro declarou que Guedes está disposto a aceitar uma economia de R$ 800 bilhões em dez anos.
Até agora o ministro vinha afirmando publicamente que a condição para negociar mudanças no projeto era obter uma poupança de R$ 1 trilhão em dez anos para os cofres públicos.
"Não sei se o novo número é do presidente ou do Carlos Bolsonaro. Por isso vou aguardar antes de fazer qualquer comentário", diz ao blog o líder do PP, Arthur Lira (AL).
Lira é um dos principais articuladores do chamado Centrão, o grupo de partidos de centro-direita que reúne cerca de 250 deputados e tem definido as votações na Câmara.
Sua declaração irônica aponta para o fato de o filho do presidente estar por trás de outras polêmicas do Planalto.
Carlos Bolsonaro tem criticado o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão. Bateu boca e acabou conseguindo demitir o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Gustavo Bebiano.
"Quero preservar o presidente de uma eventual polêmica. Pode publicar", disse Lira ao blog.
Recém-nomeado presidente da Comissão Especial encarregada de discutir a reforma, o deputado Marcelo Ramos (PR-AM) foi enfático em entrevista nesta tarde à rádio CBN:
"No mesmo dia em que se divulgam as contas com R$ 1,2 trilhão de economia em dez anos, o presidente fala que só são necessários R$ 800 bilhões? Parece que está jogando contra. Ele é o bonzinho que tira as coisas ruins e nós, no Congresso, fazemos o papel de maus."
A irritação também atinge a fala do presidente sobre o regime de capitalização.
Marcelo Ramos afirmou que Bolsonaro disse ser possível deixar a mudança no regime de poupança previdenciária para depois.
Segundo o deputado que presidirá as sessões da Comissão Especial, agora "não tem nenhuma chance" de passar o novo regime da forma como a área econômica vinha propondo.
"Ninguém tirou mais itens dessa reforma do que o presidente da República com suas declarações", disse Marcelo Ramos.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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