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Militares temem o alinhamento de Ernesto Araújo à invasão da Venezuela

Tales Faria

30/04/2019 09h48

A viagem do ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, aos EUA está deixando os generais brasileiros de orelha em pé.

Em sua terceira visita ao país desde que assumiu, Araújo encontrou-se na segunda-feira (29) com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o assessor de segurança Nacional de Donald Trump, John Bolton.

São os auxiliares diretos do presidente norte-americano mais radicais na defesa de uma intervenção armada dos EUA para derrubar o governo Nicolás Maduro, na Venezuela.

Nos EUA, este tipo de intervenção em outros países costuma ser usada como estratégia em campanhas eleitorais.

A eleição presidencial acontece apenas em 2020. Mas a corrida pré-eleitoral já se iniciou e Trump tem se mostrado candidatíssimo à reeleição.

Os comandantes militares brasileiros são absolutamente contrários à intervenção armada. Já Araújo, embora publicamente não admita, tem demonstrado disposição de se alinhar com a posição que os EUA vier a tomar.

Há temores de uma tentativa de tomada de poder durante manifestações convocadas pelo grupo do autodeclarado presidente venezuelano, Juan Guaidó. Maduro reagiu também convocando aliados às ruas. O conflito era esperado só para amanhã.

Ocorrendo pode ser deflagrada uma disputa armada que dê aos EUA a desculpa para intervir. O temor dos militares brasileiros é que esta estratégia para forçar o Brasil a entrar no conflito, "para evitar mais derramamentos de sangue", esteja sendo combinada entre os auxiliares de Trump e Araújo.

As divergências entre os militares brasileiros e o grupo de Araújo quanto ao tratamento à Venezuela –leia-se os filhos de Bolsonaro e o guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho– estão na base de todas as trocas de farpas das duas alas do governo.

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, não passa um dia sem ser atingido por petardos dos bolsonaristas mais radicais. Ele comandou pessoalmente a operação abafa dos militares contra a participação brasileira na tal "ajuda humanitária" à Venezuela lidera pelos EUA e pela Colômbia.

O governo Maduro afirmou que a "ajuda humanitária" era na verdade uma tentativa dos EUA de intervir no país, alimentando dissenções internas.

Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz também entrou na linha de tiro de Olavo de Carvalho e dos filhos do presidente. Santos Cruz tem se oposto publicamente à intervenção na Venezuela.

No último dia 6, ele ministrou palestra no Brazil Conference At Harvard & MIT, em Boston (EUA). O evento foi  organizado por estudantes das universidades Harvard e do Massachussetts Institute of Technology (MIT). Ante uma pergunta sobre a Venezuela, declarou:

"Se o Brasil acha que pode fazer missão de paz na Venezuela? Não tem sentido nenhum o Brasil levantar uma suposição de missão de paz na Venezuela neste momento."

 

 

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Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.


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