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Informações erradas dos EUA fizeram Itamaraty ser derrotado pelos militares

Tales Faria

01/05/2019 08h45

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, levou para a reunião extraordinária com o presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta terça-feira (30), informações do governo norte-americano e de aliados do autoproclamado presidente da Venezuela, Juán Guaidó, que se mostraram erradas.

Presentes na reunião no Planalto, os ministros-generais Fernando Azevedo (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, preferiram apostar nas informações que eles próprios tinham colhido.

Ernesto Araújo havia se encontrado no dia anterior, nos EUA, com os secretários de Estado, Mike Pompeo, e de Segurança daquele país, John Bolton, defensores da destituição do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Ambos traçaram ao brasileiro um quadro de queda iminente do regime bolivariano. Teriam informações, fornecidas por Guaidó e pela CIA (Central de Inteligência dos EUA), de que as manifestações contra o governo marcadas para o 1º de Maio seriam antecipadas para ontem.

O autoproclamado presidente já estaria em tratativas com militares venezuelanos de alta patente para realizar a transição de governo. E Maduro já teria sido convencido a deixar o país.

Mourão foi adido militar do Brasil na Venezuela. Mantém até hoje canais de interlocução com militares venezuelanos. Esses canais com o Brasil também funcionam com o Ministério da Defesa e até a GSI. Os três generais disseram duvidar de que militares de alta patente tenham aderido a Guaidó.

Àquela altura Guaidó já estava convocando a população para as ruas e anunciando publicamente o apoio de militares ao movimento.

Diante da divergência de informações entre o ministro do Itamaraty e os generais, não restava a Bolsonaro outra decisão que não a de esperar a evolução dos conflitos em Caracas para saber se, de fato, Guaidó tinha apoio dos militares Venezuelanos.

O ministro das Relações Exteriores declarou à imprensa naquela manhã que "o reconhecimento de militares a Guaidó é um dever constitucional de lealdade" e que "o Brasil espera que os militares sejam parte da transição democrática na Venezuela".

À tarde, foi a vez de o general Heleno  deixar clara a posição vencedora. Segundo ele, "não se percebeu movimentação militar (…), havia um certo apoio, mas isso não chegava a atingir os altos escalões". E mais: "Não há nenhuma intenção nossa de violar o preceito constitucional de não intervir em assuntos internos de países amigos".

O dia acabou com Guaidó e seus aliados procurando abrigo em embaixadas, 25 soldados, sargentos e tenentes pedindo asilo na Embaixada do Brasil e os secretários norte-americanos insistindo que havia um avião pronto para levar Maduro a Cuba, mas a Rússia o convenceu a permanecer no país.

John Bolton reafirmou que chefes militares teriam mantido conversas com aliados de Guaidó e pediu que eles abandonassem de vez o apoio a Maduro.

Nada feito por enquanto.

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Sobre o autor

Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.

Sobre o blog

Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.


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