Após derrota na MP 870, Planalto discute substituição do líder do governo
Tales Faria
09/05/2019 20h30
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), deve ser a primeira vítima da votação da medida provisória 870, da reforma administrativa promovida após a posse de Jair Bolsonaro no Planalto.
A MP foi aprovada na manhã desta quinta-feira (9) na comissão especial, com alterações em relação à proposta inicial do governo.
A mais polêmica das alterações, considerada a principal derrota do governo, foi a que devolveu o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para Ministério da Economia, tirando-o da Justiça.
Os partidos do Centrão (PP, MDB, DEM, PR, SD e PRB) comandaram a votação, com ajuda de legendas de oposição. Fecharam acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para aprovar a MP em plenário ainda na parte da tarde.
O PLanalto já havia se conformado a fim de evitar que a MP perca a validade e caia por completo.
Mas o deputado Delegado Waldir (GO), líder do partido de Bolsonaro, PSL, não compareceu ao plenário e um representante do Podemos, Diego Garcia (PR), impediu a conclusão da votação com base no Regimento da Casa.
Maia e o Planalto atribuíram a decisão do deputado a uma articulação do PSL e à falta de comando de Vitor Hugo sobre a bancada governista.
Sem a votação nesta tarde, a MP corre o risco de não ser votada na Câmara e no Senado antes de sua extinção, no dia 3 de junho.
Vitor Hugo foi chamado ao Planalto imediatamente para dar explicações ao chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Ouviu do ministro críticas à desarticulação da bancada governista. O ministro disse-lhe que não foi só nesse caso e que lavava as mãos para sua permanência no cargo.
Segundo Onyx contou a líderes aliados, foram suas escolhas pessoais a nomeação da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).
Mas, como Vitor Hugo foi uma escolha do presidente, caberá a Jair Bolsonaro decidir se ele permanece no cargo.
Durante a votação, Joice foi vista ao telefone conversando com Onyx e afirmando: "O que posso fazer, pegar o Vitor Hugo pelo braço? Não dá."
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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