Avaliação reservada dentro do governo é de que manifestações não foram boas
Tales Faria
27/05/2019 08h55
Publicamente, os auxiliares do presidente Jair Bolsonaro declaram que as manifestações deste domingo foram um sucesso. Reservadamente, no entanto, não é bem assim.
Os auxiliares do presidente avaliam que não se alcançou o objetivo esperado: de uma mobilização popular grande o suficiente para impor medo aos adversários.
No final, Bolsonaro falou apenas para os seus.
A ordem agora é tentar evitar que o movimento deixe como herança um mal-estar maior do que o anterior no relacionamento do governo com o Legislativo e o Judiciário.
Líderes governistas alertaram o Planalto de que só aumentou o grau de irritação no comando dos partidos do chamado Centrão (PP, DEM, MDB, PR, PRB, SD entre outros).
O blog também tem conversado com líderes e presidentes desses partidos.
Para se ter uma ideia do problema, hoje todos os presidentes de partidos do Centrão estão praticamente rompidos com Bolsonaro. Não admitem publicamente, mas evitam a todo custo uma reaproximação ou mesmo encontros com o presidente.
Daí a preocupação do próprio Bolsonaro, já ontem à tarde, de insistir que as manifestações não tiveram o objetivo de atacar políticos, nem ministros do Supremo Tribunal Federal.
Ele postou tuítes como estes:
Por enquanto, essa argumentação não está surtindo efeito.
A maioria dos líderes ouvidos pelo blog afirma não acreditar mais na possibilidade de se estabelecer um relacionamento de parceria com o governo.
Isso não quer dizer que os projetos do governo não serão aprovados. A postura explicada por um dos comandantes partidários do Centrão ao blog é a seguinte:
"Ele cuida da vida dele e nós, da nossa. Aprovaremos no Congresso aquilo que for interessante para o nosso eleitorado e para que o país não quebre. Não vamos oferecer nem pedir nada. Inclusive cargos. O que nos interessa agora é o Orçamento impositivo. O cumprimento obrigatório das emendas parlamentares, com obras e serviços para as bases eleitorais, é que nos garantirá votos."
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
Sobre o blog
Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.