Em meio a brigalhadas, o Palácio do Planalto virou de ponta-cabeça
Tales Faria
21/06/2019 10h14
Nem se completam seis meses de governo e os principais cargos no Palácio do Planalto já tiveram que ser trocados. O mais das vezes, no meio a uma tremenda confusão.
Não é à toa que o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Planalto anda com os nervos à flor da pele. Tem dado murros na mesa e distribuído notas iradas contra adversários, o que não era seu hábito.
A Casa Civil, do ministro Onyx Lorenzoni, sofreu uma reviravolta com a medida provisória 886, editada na quarta-feira (19) pelo presidente Jair Bolsonaro.
Perdeu o comando da articulação política com o Congresso –que passará para a Secretaria de Governo. Perdeu também a Imprensa Oficial e a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), que passam para a Secretaria Geral da Presidência.
Mas Onyx ainda tem que dar graças a Deus. Outros ministros do Planalto não ficaram com nada, foram simplesmente incinerados.
O caso mais recente foi o do chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, depois que se desentendeu com o guru-mor do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, e com o filho pitbull do presidente, Carlos Bolsonaro.
Ontem, o jornal "O Globo" publicou entrevista do general declarando como vive o governo atualmente:
"Uma fofocagem desgraçada. Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras."
A entrevista do colega de farda foi apenas mais um elemento na irritação do chefe do GSI. É que outros militares de alta patente, da ativa e da reserva, têm reclamado da atuação do presidente Bolsonaro.
Floriano Peixoto nem chegou a esquentar a cadeira no comando da Secretaria Geral da Presidência. Foi chamado às pressas para a presidência dos Correios.
O presidente anunciou que Floriano substituirá o general Juarez Cunha, a quem Bolsonaro acusou, na semana passada, de ter se tornado um sindicalista em defesa da manutenção da estatização da empresa.
Juarez se recusou a deixar o cargo enquanto sua saída não fosse oficializada no "Diário Oficial da União", o que só ocorreu nesta quarta-feira.
Quanto a Floriano, será substituído por um major da PM do Distrito Federal, o subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Jorge Antonio de Oliveira Francisco.
Não se sabe ainda se o general foi simplesmente rebaixado, ou apenas uma solução de emergência em que Bolsonaro precisou utilizar alguém de sua confiança para desmontar os Correios.
Floriano havia assumido o posto no Planalto em fevereiro, no meio de outra crise: a briga de seu antecessor, Gustavo Bebiano, com o filho Carlos do presidente.
Carlos tem sido o pivô de algumas das crises no Palácio especialmente na área de Comunicação. Além de Bebiano, disputou e venceu a guerra pelo poder contra Santos Cruz.
Em meio a críticas à publicidade do governo, conseguiu nomear um subordinado do general, o secretário de Comunicação, Fábio Wajengarten, que assumiu no lugar do publicitário Floriano Amorim.
Logo após tomar posse, Fábio tratou de levar ao presidente uma acusação contra Santos Cruz: o general teria trocado mensagens de Whatsapp com um interlocutor em que o presidente era chamado de idiota.
Nem o texto, nem sua autoria foram confirmados. Mas desde então o clima no Planalto para o general ficou irrespirável.
Aliás, continua um clima complicado para muitos dos que ali permanecem.
Não se sabe ainda se o general Luiz Eduardo Ramos Pereira, que assumiu a Secretaria de Governo da Presidência no lugar de Santos Cruz, comandará de fato a articulação política. O Planalto divulgou que a arrumação ainda depende da votação da Previdência. A expectativa é de que o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, seja transferido para o posto depois da votação.
E área de comunicação, oficialmente sob a subordinação da Secretaria de Governo, na prática estará sob um comando independente, do atual secretário, Fabio Wajengarten, e do filho Zero-Dois, Carlos Bolsonaro.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
Sobre o blog
Os bastidores da política pela ótica de quem interessa: o cidadão que paga impostos e não quer ser manipulado pelos poderosos. Investigações e análises com fatos concretos, independência e sem preconceitos.