João Doria enfrenta Bolsonaro ao filiar Alexandre Frota ao PSDB
Tales Faria
16/08/2019 09h28
Está prevista a participação do governador João Doria hoje no anúncio da filiação do deputado Alexandre Frota ao PSDB.
O governador atuou pessoalmente para atrair Frota para seu partido, depois que o deputado foi expulso do PSL de Bolsonaro.
Alexandre Frota foi obrigado a sair depois que passou a criticar atitudes do presidente. Especialmente a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Irritado, Jair Bolsonaro cobrou do presidente do PSL, Luciano Bivar, que o deputado fosse expulso da sigla. Desde então ele e Frota passaram de velhos amigos a inimigos figadais.
Bolsonaro, que fez campanha junto a Frota em 2018 e chegou a declarar que poderia indicá-lo ministro, passou a dizer que nem o conhece. Em entrevista à Folha, o deputado chamou o presidente simplesmente de "idiota".
Por outro lado, não é segredo para ninguém que João Doria sonha em concorrer ao Planalto em 2022. Assim como o presidente da República dá todos os sinais de que pretende se candidatar à reeleição.
Ou seja, os dois, disputarão os votos no campo da centro-direita. E o deputado-celebridade é um reforço significativo para Doria nessa corrida.
Em política é assim: seu verdadeiro adversário não é o inimigo declarado, mas aquele que tenta tomar votos na sua área. Daí porque nos últimos tempos Doria e Bolsonaro têm trocado farpas.
A notícia da escolha pelo PSDB não pegou Bolsonaro de surpresa. Mas o presidente esperava que o anúncio da recepção a um deputado inimigo e em plena guerra com o Planalto fosse feito mais tarde.
Foi interpretado como um recado do governador de que está pronto para disputar espaço com Bolsonaro: quem quiser romper com o governo federal, terá as portas abertas no Palácio dos Bandeirantes.
É provável que tanto Doria como Bolsonaro tentem disfarçar publicamente por agora. Afinal, 2022 não está tão próximo assim. Mas daqui até as eleições os apupos entre os dois tendem a aumentar de frequência e intensidade.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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