Fernando Bezerra permanece líder do governo, mas depois será afastado
Tales Faria
23/09/2019 09h20
O presidente Jair Bolsonaro tem dito a aliados que está mesmo "desconfortável" com a permanência de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PB) como líder de seu governo no Senado, mas que não pode fazer nada, "pelo menos por enquanto".
Esse "por enquanto" significa: até que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tenha seu nome aprovado como embaixador do Brasil em Washington (EUA).
A presença do senador como líder do governo é vista como fundamental para assegurar os votos do Centrão à nomeação do filho do presidente da República.
Se Fernando Bezerra romper com o governo (ou "for rompido", como dizem os aliados de Bolsonaro) é bem provável que Eduardo Bolsonaro perca alguns votos decisivos, especialmente numa votação secreta.
Depois disso, o senador emedebista é visto como um estorvo para os planos eleitorais do bolsonarismo, especialmente em 2020, quando as eleições municipais devem antecipar a campanha presidencial de 2022.
Os bolsonaristas consideram que será difícil explicar durante a campanha a presença, ao lado presidente, de um político tido como representante típico da "velha política" e ainda sob a mira da Operação Lava Jato.
Havia esperanças no Planalto de que Fernando Bezerra rachasse a base eleitoral do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Mas a operação de busca e apreensão da Polícia Federal, na semana passada, em endereços do senador e de seu filho, o deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE), colocou por terra esse sonho: Bezerra e o filho serão fortemente atacados por um discurso anticorrupção.
A ideia é aguardar as principais votações de interesse do governo no Senado –como a reforma da Previdência, a indicação de Augusto Aras para procurador-geral da República e a aprovação do embaixador em Washington– para então diluir o afastamento do líder numa minirreforma ministerial.
Além de Fernando Bezerra, estão na mira do Planalto os ministros Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional) e Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo. Seus cargos podem ser usados para aparar as arestas que sobrarem com o Centrão.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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