Senado adia a reforma em solidariedade a líder contra Planalto e Lava Jato
Tales Faria
24/09/2019 11h34
Sem meias palavras. O adiamento da votação da reforma da Previdência para a semana que vem, decido hoje pelos líderes e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi uma manifestação de solidariedade ao colega Fernando Bezerra (MDB-PE), alvo de uma ação de busca e apreensão da Polícia Federal em seus endereços.
A Polícia Federal divulgou que o líder do governo no Senado é suspeito de ter recebido propina de R$ 5,5 milhões, entre 2012 e 2014, em contratos das obras de transposição do rio São Francisco. Tratam-se de delações ainda não comprovadas.
Mas a operação foi recebida no Congresso como uma declaração de guerra da Polícia Federal e da força tarefa da Lava Jato.
Surgiu às vésperas da votação do pacote anticrime pelo Cãmara e em meio a articulações do Centrão em favor de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar desvios de conduta na equipe da Lava Jato levantadas por reportagens do site The Intercept Brasil e outros veículos, como o UOL.
Fernando Bezerra está ameaçado de perder o cargo no governo por conta das acusações. E os senadores resolveram mostrar ao Planalto e à Justiça que estão dispostos a transformar o episódio numa crise institucional: a votação da reforma da Previdência foi adiada para a semana que vem e corre riscos de atrasar ainda mais se Bezerra for afastado.
Faz parte desse recado a visita dos líderes ao Supremo Tribunal Federal (STF) para apresentar ao presidente da Corte, Dias Toffoli, ação que pede a anulação do pedido de busca e apreensão no gabinete do senador Fernando Bezerra Coelho.
À tarde, na sessão do Congresso, outro recado: deputados e senadores deverão derrubar os vetos à lei de abuso de autoridade. Esses vetos foram assinados pelo presidente Jair Bolsonaro atendendo a pedidos da PF e do ministro da Justiça Sérgio Moro, que comandou a operação Lava Jato.
A reação do Senado foi decidida pela maioria dos líderes, especialmente do Centrão (MDB, DEM, PSD, PL e PP), que na prática decide as votações no Congresso, e PT.
O grupo "Muda Senado", de senadores alinhados com Sérgio Moro, é contrário. Nesse caso, ganhou o apoio de figuras como a presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Simone Tebet (MDB), ampliando o racha na Casa.
Tebet foi um dos principais cabos eleitorais de Davi Alcolumbre na campanha a presidente do Senado. Também se afastou outro de seus cabos eleitorais na campanha, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de quem era aliado no Estado.
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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