Alcolumbre rompe com seus cabos eleitorais no Senado e se alia ao velho MDB
Tales Faria
25/09/2019 09h03
Nesta terça-feira, 24, o núcleo duro da campanha de Davi Alcolumbre (DEM-AP) a presidente do Senado, reuniu-se para almoçar no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
O tucano e os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Simone Tebet (MDB-MS) e Antonio Anastasia (PSDB-MG) diziam-se entre atônitos, traídos e profundamente irritados com aquele a quem elegeram para o comando da Casa.
Alcolumbre havia combinado um jantar na noite anterior com Tasso, que é relator da reforma da Previdência, e com Simone Tebet, que preside a Comissão de Constituição e Justiça, para acertar os detalhes da votação da reforma, no dia seguinte.
Mas ele desmarcou o jantar e resolveu se reunir com o líder do MDB, Eduardo Braga (AM), que foi o principal cabo eleitoral de Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado, e com outro integrante da velha guarda do MDB, o líder do governo, Fernando Bezerra (PE).
"Fomos surpreendidos", nem sei o que dizer, revelou ao blog a senadora.
"É um sinal desses tempos em que estamos vivendo", lamentou Jereissati.
"Realmente deixou-nos decepcionados", protestou Randolfe Rodrigues.
Depois de se juntar à velha guarda do MDB, Alcolumbre anunciou o adiamento da votação da reforma e que acabará com as reuniões do Colégio de Líderes –onde havia sido acertado o cronograma de votações.
No lugar da Previdência, antecipou a sessão do Congresso (conjunta da Câmara e do Senado), realizada ontem e que deve se repetir hoje. Com isso, derrubou vetos presidenciais à Lei de Abuso de Autoridade –18 foram ontem mesmo– e aprovará verbas para emendas de parlamentares.
O objetivo foi dar recado ao Planalto e à Lava Jato contra a operação de busca e apreensão nos endereços de Fernando Bezerra e seu filho, o deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE) ocorrida na semana passada.
Da tribuna, durante a sessão, Bezerra fez um discurso enfático contra a Polícia Federal. E o presidente do Senado relatou sua visita ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, declarou em defesa das prerrogativas do Congresso.
Na hora de votar, um deputado disse ter visto Alcolumbre pedir a lista de vetos cuja derrubada o MDB defendia para colocar na urna.
"As atitudes recentes do presidente da Casa são inexplicáveis. Isso de acabar com as reuniões do Colégio de Líderes é um gesto de absoluto despotismo", reclama Randolfe, que também está desfazendo a aliança que mantinha com Alcolumbre no Amapá.
Mas o diagnóstico mais duro sobre a mudança de rumos apontada pelo presidente do Senado foi feita ao blog pelo líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP):
"É a Síndrome de Estocolmo. Ocorre quando o torturado se apaixona pelo torturador. O Alcolumbre resolveu se ligar àqueles que o espancaram na campanha e abandonar quem o elegeu aqui no Senado. Mas se ele pensa que sairá ganhando com isso está muito enganado."
Sobre o autor
Tales Faria largou o curso de física para se formar em jornalismo pela UFRJ em 1983. Foi vice-presidente, publisher, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Desde 1991 cobre os bastidores do poder em Brasília. É coautor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 1993 na categoria Reportagem, “Todos os Sócios do Presidente”, sobre o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. Participou, na Folha de S.Paulo, da equipe que em 1986 revelou o Buraco de Serra do Cachimbo, planejado pela ditadura militar para testes nucleares.
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