Generais negociaram com Bolsonaro abrandar referências ao golpe de 64
Liderados pelo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, os comandantes militares negociaram com o presidente Jair Bolsonaro não haver comemorações formais dos 55 anos do golpe de 31 de março de 1964.
Segundo alguns oficiais generais ouvidos reservadamente pelo blog, os militares não queriam transformar a efeméride num novo movimento pró-ditadura, nem incentivar protestos pelo país contra a atuação das Forças Armadas entre 1964 e 1985.
Não havia espaço para se rebelar contra a ideia inicial do presidente da República de comemorar a data. Foi acertado um meio termo. Acabaram ocorrendo na quinta-feira (28) e na sexta-feira (29) eventos sem estardalhaço dentro dos quarteis, focados nas formaturas mensais de diversos órgãos militares.
Os comandos regionais convidaram umas poucas autoridades civis para seus eventos naqueles dias.
Hoje, praticamente não houve referência nos quarteis ao assunto.
Foi negociado com o presidente que, diferentemente de outras ocasiões, desta vez seria lida uma ordem do dia assinada pelo ministro da Defesa e pelos comandantes gerais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O texto foi oficialmente divulgado hoje.
Reforça uma posição já generalizada no meio militar de que o golpe foi em reação a um suposto risco de radicalização das forças de esquerda no país. Mas também manda um recado para a direita:
"Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis."
E, mais adiante:
"As Forças Armadas (…) em estrita observância ao regramento democrático, vêm mantendo o foco na sua missão constitucional e subordinadas ao poder constitucional, com o propósito de manter a paz e a estabilidade, para que as pessoas possam construir suas vidas."
Ou seja, nada de aventuras antidemocráticas.
Essa mesma postura, digamos, mais equilibrada dos militares tem se saído vitoriosa sobre os bolsonaristas radicais nas decisões mais importantes do governo. Pelo menos até agora.
No caso da Venezuela, contra o alinhamento radical às propostas intervencionistas dos EUA, defendido pelo ministro Ernesto Araújo (Itamaraty), valeu a posição do vice-presidente, o general Hamilton Mourão.
Ele acabou comandando pessoalmente as negociações sobre o assunto quando EUA e Colômbia promoveram uma proposta de "ajuda humanitária" rechaçada pela Venezuela.
No caso da ideia de transferência da embaixada do Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, também saiu vitoriosa a posição moderada dos militares.
Com o apoio dos ministérios da Agricultura e da Economia, defenderam que o Brasil estaria se inscrevendo em um conflito que não lhe cabe e sem ganhar nada em troca. Pelo contrário, perdendo mercados e podendo atrair a ira de radicais islâmicos.
Acabou vingando o anúncio de apenas um escritório comercial em Jerusalém formalizado hoje pelo presidente.
Mas outros embates entre os militares e os bolsonaristas radicais ainda devem ocorrer neste governo.
Os filhos de Bolsonaro defenderam o golpe nas redes sociais. O mais novo, reproduziu um vídeo em defesa do movimento que também foi divulgado por um dos canais oficiais do Palácio do Planalto.
O guru da família, Olavo de Carvalho, continua a atacar os generais quase que diariamente no twitter.
Hoje, postou:
Hoje, o que os bolsonaristas conseguiram de fato foi incentivar alguns protestos de rua contra o golpe:
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